Demoeste! Parte 7 - Vambora!

- Puta que pariu! – falou Kruger, levantando-se depois de ouvir a sexta puta que comia no Inferno contando pelo décima vez sua triste história de como havia se entregado à prostituição devido à pobreza da família. – Ah, fala a verdade, mulher. Cê tava era com a buceta coçando pra dar e foi lá ganhar dinheiro pra fazer o que gostava!

- Ai, não é assim! – disse a digníssima e sofrida mulher da vida, ameaçando-o com lágrimas. Havia pouca coisa que Kruger odiava mais do que uma puta chorando. Talvez uma puta chorando enquanto dava. Diziam que tinha uma assim em Dallas e tinha gente que fazia fila pra comer buceta molhada com lágrima, mas o falecido pistoleiro tinha vontade era de meter uns balaços nela ao invés do pau.

Pensando nisso, ele resolveu explicar melhor para a combalida devota de Nossa Senhora de Todas as Esquinas o que ele queria dizer.

- Olha, eu sempre adorei meter uns balaços em todo mundo e aproveitei para ganhar dinheiro para comprar cachaça com isso. Nem vejo o que tem de ruim nisso. Nem vejo. Pára de chorar!

Deu as costas e saiu do bordel infernal para as ruas quentes em que o povo andava amuado e amontoado, uns chorando e outros pedindo desculpas. Chutou um mendigo cuspiu na cara de um anão vestido de palhaço, chutou uma garrafa de cerveja caída e... Um anão vestido de palhaço? Voltou curioso para saber o que o maldito estava fazendo no Inferno. Pelo que sabia não era pecado ser baixinho ou fazer piada sem graça, então aquilo deveria ser a primeira coisa interessante a ver na Casa do Capeta.

Parou em frente ao anão para perguntar, mas estava com tanta raiva que teve uma idéia melhor. Meteu um chute, um daqueles bicudos que furar, na virilha do anão e ficou rindo enquanto o pobre coitado se contorcia. Acabara de lembrar o quanto odiava palhaços. Ainda ria do pobre profissional do riso que Deus esquecera de privilegiar com a verticalidade quando o Diabo da Cartola Branca apareceu bem vestido como sempre.

- Kruger, meu caro! – cumprimentou.

O pistoleiro cuspiu nos sapatos luxuosos dele, mas o demônio não deu atenção. Sorriu com felicidade e chamou-o para uma caminhada. Andava com aquele jeito polido de gente rica que é educada ao se afastar dos outros. Também tinha um ar de político, cumprimentando todo mundo sem se dar ao trabalho se parecer próximo demais da gentalha.

- Está gostando do Inferno? – perguntou o Diabo da Cartola Branca, com aquela conversa mascada que Kruger odiava.

- Gostando? Essas putas daqui são piores que a filha do Reverendo Marshall. Vocês cagaram e sentaram em cima quando criaram isso aqui. Pensei que fosse uma festa só.

- Nem toda festa é boa para todo mundo... mas já disse. Preferia dar uma festa sozinho em casa? Lá em cima é fácil de fazer isso.

- Eu e uma puta já estava de bom grado. Ou podia ser uma esposa infiel!

- Ah, tem dos dois tipos lá em cima. Uma delas é até nossa informante lá – revelou o Diabo da Cartola Branca coçando o queixo como se acabasse de se lembrar de um compromisso.

Kruger não deu atenção. Parou um pouco de andar, meio cansado daquela lenga-lenga.

- O que cê quer afinal? Fica falando merda. Parece gente com hemorróidas cagando. Rodeia a privada, mas fica com medo de soltar a bosta.

- Quanta secura nessas suas palavras. Bom, direto ao assunto. Temos uma proposta para você subir lá para a Terra de novo e fazer o que faz de melhor! – comentou o Diabo da Cartola Branca.

Kruger olhou desconfiado, mas pesou: o que pode ser pior do que puta chorando depois do sexo e cerveja sem álcool?

- Eu aceito! Quando vou?

- Agora, se quiser...

- Espera...

E saiu correndo, aquelas corridas em que parece que a pessoa vai voar de felicidade, levantando os braços, gritando de alegria, como um preso liberto de uma sentença da qual era inocente. Mas o olhar de Kruger não era de alegria. A expressão no rosto não era de alívio. Era de uma pontaria acirrada e concentração total enquanto tomava cada vez mais velocidade até... Até alcançar o anão palhaço e dar outro bicudo no desprivilegiado vertical. Só depois que viu o pobre coitado voar com as mãos no pinto e cair em posição fetal, o pistoleiro virou-se para o Diabo da Cartola Branca e disse:

- Vambora!