Odolinda

As escavações avançavam a sibilante trá-lá-ri; mais umas longas centenas de quilómetros, e se os cálculos estivessem no enfiamento da razão, atingiriam o centro da gravidade terrena. Em seguida bastaria continuar a escavar a direito e esperar que a broca gigantesca da Odolinda voltasse a afocinhar ao ar livre na luz do sol, ou a deparar-se com a da lua, se as previsões meteorológicas não errassem. Ficaria provado, pela gloriosa epopeia da Odolinda, que a distância mais curta entre dois pontos diametralmente opostos em hemisférios diferentes, é por debaixo de terra.

Cairiam como poeira húmida as descobertas dos portugueses no passado, e igualmente tombariam os malabarismos acrobáticos do pretérito mais recente da aeronáutica.

Bastaria em seguida criar um poderoso consórcio capaz de esburacar, como bola de queijo suíço, a Terra de um lado ao outro em todas as direcções, e com sofisticados elevadores ultra-rápidos, em um abrir e fechar de pestanas os Sheiks dos emiratos e afins, estariam de túnica afastada e pernas esparramadas ao léu, numa qualquer praia paradisíaca do Pacífico.

Como a imaginação não tem freios, em um devaneio outro, já que mo solicitam, poder-se-ia aproveitar o princípio da Odolinda, e com apropriado equipamento, esburacar o cérebro de certos imbecis, por forma a que a caca que lhes fede na mente pudesse descer-lhes mais escorreita pernas abaixo; era um alívio para eles e sempre se tornavam menos fedorentos.