A CHUVA

Sol ficou ali enquanto as gotas de chuva transformavam-se em uma cachoeira pelo seu rosto... escorriam junto com as lágrimas...ele não veio...era nosso primeiro encontro...ele não veio...ficou ali deixando que a água que vinha dos céus lavasse todo seu desespero. Não queria admitir, mas gostava dele. Mas, ele deve ter esquecido, ou, não era importante para ele, sei lá. Mas, ele não veio e seu coração se encolhia com o frio que começava a sentir agora em seus ossos, isso estava molhada até os ossos, até sua alma umedecida pelos soluços que deixava agora soltos no ar, que com o murmúrio da tempestade ninguém iria ouvir. Ficaria ali para sempre sentada naquele banco de praça. Sim, estava sentada num banco de praça, esperando o homem que tinha sonhado durante dias enquanto se falavam pelo computador. Já tinha sido avisada sobre esses relacionamentos virtuais que não tinham lugar na vida real. E, era verdade, tinha que admitir. Hoje estava admitindo tudo que sempre havia negado. Porque acreditava que o amor existisse, acreditava mesmo. E, a chuva caía...começava a ficar bem fria suas roupas também esfriavam, mas nada mais frio que seu coração, seu coração dilacerado pela desilusão. Por todas as suas expectativas de uma vida inteira de ilusões, mas ninguém tinha nada a ver com isso. Afinal, ninguém ligava mesmo. Estava ali, sozinha, como sempre. E, molhada. Levantou-se devagar e foi andando olhando, de um lado para o outro, observando os rostos escondidos debaixo dos guarda-chuvas apertando as golas dos casacos, as lojas com as vitrines molhadas e com uma névoa de respiração de quem mesmo com aquele tempo ainda parava para olhar vitrines. É, tinha gente que ainda parava para olhar vitrines! E, ela pensou em si mesma desiludida e com a sensação de que nada haveria de curar sua dor, viu-se olhando as vitrines, os vestidos, e roupas que nunca tinha pensando em usar e que agora tinha vontade de usar, ou nunca tinha tido coragem de usar, Não combinavam com ela, mas agora pensando bem, olhando bem, ficariam bem nela como nas modelos de revistas e sentiu-se como uma modelo de revista,e, assim de repente, começou a mudar sua vida. Sem querer, num passe de mágica. Sim, poderia ser outra pessoa sendo ela mesma!

Agora começou a rir e a chorar...estava louca...isso estava louca...começou a rir de si mesma e de quem olhava para aquela doida que ria... toda molhada embaixo daquela chuva fria na frente de uma vitrine...

Sentiu uma emoção que nunca tinha sentido antes, amor próprio, sim, ela poderia ser como a modelos de revistas! Era só querer! Poderia ser a mulher dos seus sonhos, e, não dos sonhos dos outros! Poderia ser ela mesma e descobriu isso assim como um raio que tivesse caído em sua cabeça! Como a vida era complexa! Acabava de sair de uma grande decepção amorosa, virtual, mas amorosa, e estava pensando em ser bonita. Era isso que ela queria ser bonita! Ser feliz! Sempre havia se achado feia e sem graça. Nunca tinha tido um namorado de verdade. Escondia seu corpo em roupas que não valorizavam suas formas. Mesmo que não fossem perfeitas, poderiam ser valorizadas. Poderia usar a maquiagem elegante. Poderia ter uma postura elegante. Agora já não seria mais só bonita seria bonita, elegante e feliz! Deu uma ajeitada nos ombros, ficou ereta, e começou andar mais rápido, agora sentiu o frio, os ossos gelados.

Começou a andar depressa porque sentiu amor por si mesma, e sentiu que poderia pegar um resfriado.

Chegou em casa já estava passando a novela das sete, adoro novelas, são reais e irreais e surreais ao mesmo tempo. Deitou-se no sofá e começou o seu exercício de beleza e elegância. Definiu o que era beleza e elegância e escolheu suas exemplares, que serviriam de objeto de estudo para sua transformação. Usaria novelas, revistas, internet. Faria tudo sozinha. Podia fazer tudo sozinha. Sabia por onde começar. Já tinha lido muitos livros de auto-ajuda, romances, filosofia, antropologia, vários livros.

A vida é um mar de encontros e desencontros. Achados e perdidos. Que coisa! Achados e perdidos...começou a rir...estava realmente louca...sentia-se uma completamente perdida, sem rumo, sem nada. E, de repente, tinha tudo que precisava. Tinha ela mesma. Era tudo que ela precisava... de si mesma...era uma descoberta indescritível....descobrir a si mesma...como uma pessoa que nunca tinha visto...ou que nunca tinha olhado, porque esperava que olhassem pra ela, esperava a aceitação dos outros, que não vinha...mas agora é diferente...precisava da sua aceitação! Demorou 37 anos para perceber isso! Sempre supervalorizou a opinião dos outros, estava cansada, estava muito cansada disso. Queria ser ela mesma, sabia que o tempo havia passado, mas era o que ela queria ser, ela mesma, apesar do tempo marcado em sua vida, em seu rosto, em seu corpo, e queria ser bonita e elegante. Não queria ser uma executiva de trailleur, uma advogada ou uma engenheira de...sim queria ser uma engenheira...uma engenheira de almas. Almas femininas que assim como ela ficaram anos empedernidas dentro de si mesmas, escondidas, apagadas esperando o amor dos outros, que, infelizmente, não viria, não, não viria enquanto não amasse a si mesma. Não queria mais ouvir a opinião dos outros! Os outros são os outros! Nem da família! Mesmo que fossem com as melhores intenções! Não tinha que sair dela o que queria ser. E, agora sabia, ia ser feliz e linda, feliz, linda e elegante. Não importava se tinha ou não uma profissão! Sua profissão era ser ela mesma. E, passar sua história para todas as mulheres que também não tinham profissão. Iria levantar o estandarte das mulheres lindas por dentro e por fora! Não importava a idade, nem a classe social, bastava que quisessse ser feminina e feliz! Descobrir dentro de si mesmas a força das grandes divas! A Força do Amor! Amar é a solução!

Mariani Batista
Enviado por Mariani Batista em 28/07/2008
Código do texto: T1101495
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