Choque anafilático

O choque anafilático

1º. Lugar no “Amantesdasleituras” – agosto / 2008

Raquel entrou no quarto onde seu marido Jorge repousava após a cirurgia de fígado, quando uma camada de 4% foi removida antes que uma área maior do órgão fosse tomada por uma infecção cancerosa. O médico Rafael aproximou-se e disse-lhe:

- A cirurgia foi um sucesso! Retiramos a parte afetada e costuramos os pontos em menos de quatro horas! Para quem consumia oito doses de conhaque por dia nos últimos nove anos, até que seu marido respondeu bem à operação. Acredito que em cinco dias ele já estará em casa para repousar ao lado da família e voltar às atividades cotidianas.

Raquel respondeu:

- Todos nós reconhecemos seu esforço nesta delicada intervenção. Fizemos dezenas de orações para que tudo desse certo. Certamente recomendarei seu nome a todas as amigas que conheço no escritório e na escola de meus filhos.

Neste instante entrou no quarto a enfermeira para efetuar a troca do saquinho de soro que descia pelo tubo de plástico até o pulso esquerdo do paciente. Para espanto de Raquel, ela deu um corte no alto do recipiente de plástico e derramou parte de seu conteúdo na pia do banheiro. Destampou uma garrafa que inundou o ambiente com o odor de álcool e verteu quase 200 ml para o interior do recipiente e o selou com fita adesiva. Quando se preparava para conectá-lo ao braço do marido, Raquel interpelou:

- O que é isto? Tem cheiro de aguardente!

Prontamente o médico respondeu:

- Exatamente! O grau de viciamento de seu marido era tão alto, que descobrimos que ele não pode absorver soro de imediato, pelo risco de um choque anafilático. Logo mais à noite a proporção será de 50% de soro + 50% de caninha. Amanhã passaremos o soro para 75% e no terceiro dia então ele passará a receber apenas soro, sem mistura.

- Só falta o senhor me dizer que ele foi anestesiado com um litro de “manguaça”.

- Não senhora. Bem que tentamos. Mas não funcionou. Ele só “apagou” depois de ingerir oito canecas de uísque! Ao sair, por favor, passe lá na Secretaria do hospital. Houve um acréscimo nos custos, pois a bebida era escocesa. A nacional não fez efeito!

Haroldo P. Barboza

Autor do livro: Brinque e cresça feliz

Haroldo
Enviado por Haroldo em 16/09/2008
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