Espera...

Era impossível não me sentir a caricatura sarcástica de um escrito sádico, sentada esperando alguém que não viria. Eu sentia, desde o momento que me arrumei, desde que saí de casa, eu sentia, no fundo de mim, que me aguardava um chá de espera, que termina, certamente, com o gosto amargo do desencontro, que neste caso, é muito mais que de dois seres, mas das almas...

Mesmo tendo por algum tempo seu carinho, seu beijos e afagos, nunca tive sua alma, o que te oferecer, se nada sou alem de uma vampira de força vital. Você emana a calma que falta a meu espírito morto, te senti como quem, surpreendido, nota um perfume suave em meio a um turbilhão de odores fétidos, você me mostrou algo que eu, sinceramente, pensei ser coisa de tempos remotos. Encheu minha vazia existência de algo que não cabe a um ser como eu, esperança, mas sempre saberei, que tudo o que posso te oferecer ainda será pouco, não me corre nas veias vida, e como então, ousaria, te pedir que me dedicasse tempo, afeto, sou humana só em casca, mas sou vazia, sugadora de forças, parasita eterno, condenada a me contentar com a triste solidão.

Andei de um lado a outro, com todos os olhos do lugar em mim, sozinha, se eu tivesse um coração estaria apertado, se eu tivesse necessidade de transpirar, creio que teria as mãos úmidas, se eu fosse viva, minha respiração estaria descompassada... Mas eu apenas me sentia mais morta que o normal!

Sempre admirei os poetas, vejo tantos por tantos lugares ainda hoje, mas desconfio que a poesia deste século mudou, são ditas com certo desdém, como que diz a verdade fingindo de mentira. Busca-se ainda o amor, mas parece que ele não está mais acessível, virou um mito, o Eldorado, perdido e inalcançável. Assisto de camarote, a velha alma condenada, digo que sou a expressão máxima da falta de sentido, espero alguém que não vem, em um tempo do qual não me cabe, sendo diferente de todos, uma exceção que vaga sem rumo, que vive sem vida, um lenda, uma ironia...

O celular toca, olho no visor, seu nome, sua foto, atendo com o desânimo.

-Já estou chegando, mais 10 minutos.

Penso, em meio a meu silêncio estático, com estes 10 o atraso soma 50 minutos, e como estou aqui há tempo suficiente, como humana, e após isto como... Enfim, como além disto, aprendi que quem espera demais diz de amores e perdões diz de dependência, logicamente que merecia uma vingança tal demora. Olhei ao redor, hipnotizei um jovem qualquer, fiz com que se aproximasse, e conversasse animadamente comigo, eu ouvia com meu sorriso quase convincente.

-Desculpe o atraso...

-Ah claro, este é o Marcelo.

Via o brilho de seus olhos diminuírem, desapontamento que bem conheço, ferindo o ego quanto à perda de uma fêmea então, era delicioso causar isto a você...

Admito que conheço os piores vícios humanos, e os tenho muito desenvolvidos, poderia te fazer sofrer dos piores males emocionais, sem culpa, o que é mais perverso, boa, esta é a palavra, perversa, criaturas como eu são extremamente perversas, além do bem e do mal, pena que com você eu quase crio uma consciência, algo que me faz questionar se devo ou não escolher pelas piores atitudes...

-Atrasei, minha linda, por que o carro...

Era mentira, ele desviava os olhos, mexia com os dedos, quando o celular tocou e ficou desconcertado, eu sabia que era ela, quando te via distancia, conversando animadamente com o ser a quem invejo com cada poro, achei que talvez fosse o momento de acabar com isto, claro que jamais te faria mal meu querido, mas a ela...

-Não chore meu bem, sei que é injusto, a violência está mesmo um caos, mas estarei aqui para o que você precisar...

T Sophie
Enviado por T Sophie em 12/10/2008
Código do texto: T1225201
Classificação de conteúdo: seguro