CALVÁRIO
Acordei com uma dor aguda. A vista ainda embaçada não me deixava enxergar claramente onde eu estava. Me sentia preso e não conseguia me mover. Quando o tentei meus membros doeram a ponto de fazer com que eu soltasse um urro de desespero.
Tive uma lembrança de algo que parecia distante. Via uma multidão em volta de mim e sentia as chibatas rasgarem minha carne. Eu não entendia meu castigo e apenas pensava que aquele peso que eu carregava nos ombros parecia aumentar a cada passo.
Tentei olhar para baixo, porém o sangue que escorria em minha face tapou minha visão. Quando movimentei minha cabeça para baixo senti como se mil agulhas estivessem ficadas em minha cabeça, algo apertava minha testa e fazia o sangue escorrer ainda mais.
Ouvia vozes, algumas grossas em uma língua que eu não entendia e outras familiares, com tons de melancolia e desespero.
Em outro lampejo de memória vi alguns amigos em volta de mim. Risos e muita apreensão naquilo que eu estava dizendo. Eu sentia amor, muito amor daqueles que me rodeavam, porém senti uma traição.
Um beijo... Sim um beijo de alguém... Mais dor e agonia...
Ouvi uma voz de mulher gritar e alguém tentando acalmá-la... Será que alguém morreu?
Minha garganta seca pedia água... Acho que cheguei a balbuciar um pedido...
Alguém atendeu e me deu de beber... Acho que a dor me deixou com os sentidos trocados, por que a água parecia azeda como vinagre...
Outro lampejo me veio a mente... Um jardim... Um pedido... Um Destino, minha negação...
MEU MEDO...
Quando me dei por mim, lembrei que não via nem ouvia mais o meu pai... em pleno desespero e solidão gritei:
_ PAI, POR QUE ME ABANDONASTE????