Cemitério dos Epitáfios Sinceros

Se você passar pela Serra dos Capuchinhos, verá uma aldeia na várzea onde se pode observar um cemitério bastante incomum. Visitando-o descobre-se que a cidadela guarda um sinistro segredo: nas lápides não estão talhados escritos de entes queridos dos falecidos, mas sim confissões sinceras dos próprios mortos que lá repousam.

Logo após a entrada estão os túmulos dos habitantes mais antigos da cidade. Na lápide do primeiro prefeito lê-se: “Gastei o dinheiro de minhas fazendas para me eleger prefeito, e quando eleito roubei o dinheiro público a fim de me enriquecer ainda mais. Morri cheio de fortuna, mas não a pude levar comigo. Na terra fui temido, mas agora sou esquecido. Descanso, mas não encontrei a paz”.

Seguindo o jardim lê-se de um falecido: “Aqui jaz um covarde. Não tive coragem de ser um bom marido. Fui orgulhoso, não remediei meus erros e saí deste mundo sem dizer para minha esposa tudo que poderia ter dito. Tomaram-me como homem de bem, exemplo de pai de família, mas nada disso eu fui, e agora nada mais me resta a não ser a solidão e o silêncio ao qual eu mesmo sentenciara minha família enquanto vivia”.

Em conformidade com os epitáfios você perceberá que enquanto aquelas pessoas estavam vivas estavam ainda sendo alguma coisa, mas, ao morrer, tudo aquilo que elas estavam sendo acabou por se tornar tudo o que elas foram, porque não vivendo mais não poderiam ser outra coisa além de tudo o quanto tinham sido.

Assim, aconteceu que os habitantes daquela aldeia passaram a viver de outra forma, tanto que os epitáfios mais recentes passaram a ser de agradecimento pelo que os falecidos tinham vivido em vida, ao invés de lamentação e arrependimento, como os mais antigos.

E se você estiver em viagem, não deixe de visitar, pois, o cemitério dos epitáfios sinceros.