Ana e Bárbara

Diziam que se amavam e, de fato, nenhuma expressão de amor parecia superar o que demonstravam sentir uma pela outra. Eram inseparáveis. Onde uma ia a outra acompanhava, fosse na cozinha, na praça, na quitanda. Moravam juntas, trabalhavam juntas, estudavam juntas, também almoçavam, jantavam, assistiam filmes, ouviam música, iam no supermercado, sempre juntas. Estranhamente, pareciam jamais se cansar uma da outra. Compreendiam-se, consolavam-se, abraçavam-se e trocavam as poucas confidências que restavam de suas vidas sem segredos. Grandes amigas, grandes amantes, de um amor absolutamente cúmplice, de uma cumplicidade ímpar. Até o dia em que ele apareceu. Ouvia-se dizer que foi por casualidade que, ao passar por elas na rua, tropeçou, e as rosas que levava foram parar nas mãos de Ana que, desconcertada, sorriu pelo inusitado. Sorrindo também, ele se desculpou e fez questão que ela as aceitasse. Achando graça, Ana e Bárbara trocaram olhares e, no dia seguinte, ele foi muito cordial ao revê-las. Tornaram-se amigos. E sob olhares e sorrisos, tornaram-se amantes. Talvez não tenha se passado mais do que 30 dias para Tiago declarar o seu amor a Ana, que ainda cortejava Bárbara, para quem o amor deveria ser incondicional e, portanto, o mais importante era que Ana se sentisse feliz – de fato, não foi difícil para ela aceitar Tiago em suas vidas. E ainda naquele ano, Ana encontrou um serviço melhor e, aparentemente sem perceberem, elas passavam a se encontrar cada vez menos, embora dividissem o mesmo teto. Foi numa quarta-feira que, indisposta, Ana saiu do trabalho no meio da tarde e, lívida, encontrou Fábio com Bárbara. Corpos nus, suados, frenéticos. Ele fungava, ela uivava e, Ana, olhar enlouquecido, tentava não acreditar. Mas em instantes acreditou e também gritou, chorou, esbravejou, correu, quis morrer. Mudou-se no mesmo dia. Ouve-se contarem que Fábio, semanas mais tarde, foi morar com Bárbara, a quem dizia amar verdadeiramente.

E diziam que se odiavam e, de fato, nenhuma expressão de ódio parecia superar o que demonstravam sentir uma pela outra...

Anderson Adami
Enviado por Anderson Adami em 25/06/2009
Reeditado em 01/10/2009
Código do texto: T1667478
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