SAGA DO ZÉ DO MATO PARTE II

ZÉ DO MATO E AS AMAZONAS DO ESPAÇO

por Abelardo Domene Pedroga



Quando Zé do Mato se deu conta do "conto do vigário" o qual foi vítima, já era tarde demais. A colega de repartição, quase amante, já estava longe com o dinheiro dos barnabés da prefeitura. A fila, à porta de seu gabinete, era a prova irrefutável das confusões que as delícias carnais podiam causar.
- Como é que é? Não tenho o dia todo... e o pagamento?
Os funcionários reclamavam em alto e bom som, a fila que, normalmente andava lenta, dessa vez nem ensaiava dar um passo de caramujo.
Desesperado com a confusão danada que arrumou, Zé do Mato procurou o prefeito. Afinal cunhado é para essas coisas.
O alcaide municipal estava de visita a obras do outro lado da pequena cidade, pois as eleições se aproximavam, e depois de três anos e meio de marasmo, chegara a hora da administração mostrar serviço.
Mas o bom Zé do Mato tem um anjo da guarda daqueles bem fortes, que veste a armadura e segura a borduna para o que der e vier.

Enquanto em terra a situação ia de mal a pior para o nosso herói, nos céus um pontinho prateado se aproximava do nosso belo planeta azul que, com facilidade, ludibriava os radares de americanos, russos, europeus e de todos que vasculham os céus e, sem pressa, se aproximava da cidade do nosso Zé do Mato.

Na cabine de comando da nave haviam ao menos duas dúzias dos mais belos espécimes femininos, dignas de figurarem em qualquer coletânea de beldades publicada pelas melhores revistas masculinas do planeta.

A missão delas era a de tentarem estabelecer contato com nossa espécie. Em seu planeta natal faltava uma coisa que aqui tínhamos até em demasia.

Na cidade do Zé a coisa ia bem ruim; dando uma de desentendido, o chefe da burocracia se fechou em seu gabinete, sem avisar a ninguém o que tinha acontecido com ele e, principalmente, com a grana do pagamento. Do lado de fora os inconformados já batiam na porta com violência, ameaçando arrebentá-la a chutes.

Quando a turba revolta com o que consideravam descaso com a sua situação ficou mais violenta, a porta do gabinete foi arrebentada e alguns exaltados entraram decididos a buscar seus minguados reais.
A essa hora Zé do Mato havia saído pela janela e corria em direção ao portão de saída da prefeitura, quando foi visto pelos funcionários.
Logo os gritos de "pega, pega o salafrário!", começaram a ecoar, chamando a atenção daqueles que ainda estavam na fila.
Imediatamente saíram em perseguição ao amante das onças, destruindo tudo e todos que porventura ousassem ficar no caminho que levava ao Zé.

Bom de pernas, nosso Zé conseguiu uma boa vantagem e a perseguição ultrapassou os limites da prefeitura, ganhando as ruas.
Nessa confusão toda ninguém teve sequer a curiosidade de olhar para os céus. Só quando uma grande sombra bloqueou os raios do Sol é que alguns olharam para cima. O que viram deixou a todos atônitos, dando tempo ao Zé do Mato de confirmar sua vantagem e se afastar mais e mais dos seus colegas de trabalho. Zé do Mato parou de correr e olhou para os céus.

- Minha Nossa Senhora da Queropita, meu São Cristóvão! Que diabo é isso?
Não sabia o bom moço do cerrado que os desígnios dos céus o haviam escolhido como embaixador da humanidade perante a raça de amazonas.

- Zandri, há um humano afastado da multidão, acho que podemos iniciar o contato com esse espécime.
Zandri, uma bela mulata de seus 1,78 m de altura, olhos de um verde safira e medidas que levantam o astral de qualquer candidato a defunto, olhava na tela da nave e via o suado e aterrorizado Zé do Mato.

- Parece um bom espécime, transportem ele para bordo.
O assustado Zé do Mato olhou a nave vindo em sua direção e se meteu a correr como uma onça caçadora, tentando se afastar daquilo que parecia ameaçá-lo. Mas a nave nem se aproximou muito, o mateiro burocrata sentiu uma ligeira dor na nuca e no instante seguinte já não estava mais na sua bucólica cidade, mas dentro da nave espacial.

Quando conseguiu abrir os olhos, descobriu duas coisas:
primeiro - que o medo lhe forçou os intestinos e ele precisaria urgente procurar um banheiro; e também roupas limpas; segundo - que estava cercado por mulheres. Mas se enganou quem pensou que eram apenas simples mulheres. Eram daquelas que podiam provocar uma guerra civil nos EUA, uma revolução na Rússia, e quem sabe até uma mudança de governo na China continental. Absorto nas fêmeas, se esqueceu do banheiro.

As meninas nada falaram, apenas se acercaram do burocrata e perceberem seu estado. Encaminharam-no rapidamente para um banheiro onde, o mesmo se recompôs, lavando-se e tomando para si um uniforme prateado de bordo , deixado ali para que ele fizesse uso.
Só então, com banho tomado e com o novo traje, palavras foram ditas pelas meninas.

- Olá, nós somos do planeta Vulvus! Esta é a nave "Periquita III" e nossa missão é manter contato com sua espécie.
O Zé do Mato quase caiu de susto ao ver a líder das meninas, Zandri, usando um traje igual ao dele, mas decerto que um ou dois números menores, as curvas da chefe das alienígenas, muito generosas diga-se de passagem, mostravam o caminho para se capotar com fé e coragem, além disso seus dois "melões", pareciam desafiar a gravidade, fazendo um quadro tão perfeito e surrealista que o Zé achou estar metido num daqueles sonhos que dizem anteceder a partida deste mundo.

- Oi, quero dizer, olá...eu..eu...

Nessa hora a adrenalina que, desde a fuga da prefeitura, já corria solta no seu sangue cobrou seu preço. O chefe da burocracia caiu desmaiado, duro, bem em frente à espantada Zandri.

Três dias depois.

Zé do Mato abriu os olhos e pensou que ainda estava sonhando. Ao seu lado, uma das meninas passou em sua testa um pano úmido. Ao perceber que o paciente estava acordando, ela sorriu para o matuto que retribuiu meio sem jeito. O Zé do Mato tentou se levantar e só então percebeu que estava nu debaixo do fino cobertor prateado.
- Você está bem? Tivemos de estudar sua fisiologia rapidamente para poder salvar sua vida. Temíamos que não conseguisse escapar.

- Estou bem sim, mas onde estou?
- Não sabe? Não se lembra?
- As coisas estão meio nubladas na minha cabeça, eu lembro que estava fugindo dos funcionários da prefeitura, depois uma dor na nuca e fiquei diante de verdadeiras deusas da beleza. Depois disso...

- Você desmaiou diante da nossa líder, Zandri. Ela ficou muito preocupada, assim como todas nós. Jamais poderíamos nos perdoar se lhe fizéssemos algum mal. É a primeira vez que fazemos contato com seu planeta.

Só então Zé do Mato se deu conta que aquilo que seu cérebro rejeitava era verdade. Ele havia sido raptado por uma nave alienígena e, ao invés de encontrar os monstros que sempre pensou existir a bordo dessas coisas, como os americanos vivem apregoando por intermédio de Hollywood, o que ele encontrou foi mulheres lindas e maravilhosas, que poderiam concorrer a qualquer concurso de miss, qualquer coisa da Terra com grandes chances de ganhar.
- Bom, o que vocês querem? Disse que estão fazendo contato com nosso Planeta pela primeira vez? Até agora só vi mulheres aqui, não há homens?

- Ah, você deve estar falando de espécimes masculinos? Bem, em nosso planeta não há muitos masculinos. Os últimos que restam estão morrendo por culpa de uma doença que nossas cientistas não conseguem descobrir a cura. É por isso que viajamos desde Vulvus até aqui, para conseguir masculinos que aceitem viver em nosso meio.

Zé do Mato, safado como ele só, agradeceu a tudo quanto é santo, orixá, e espírito que conhecia. Justo ele foi brindado com a sorte grande. Um planeta cheio de mulheres e os machos indo dessa para melhor. Um sorriso de satisfação aflora nos lábios do matuto já antevendo que vai ser muito solicitado pelo mulherio desse tal planeta Vulvus. Até o nome era sugestivo.

Nos dias que se seguiram, Zé do Mato recuperou suas forças e ficou inteirado da missão das moças alienígenas. Sua satisfação alcançou elevados graus quando se iniciaram as experiências com seu corpo, as moças o cutucaram em todos os lados, dando especial atenção àquilo que o diferenciava delas. E os resultados não podiam ser melhores. O Zé do Mato foi considerado apto para coabitar com a população feminina do planeta Vulvus.

E assim, nosso bom Zé do Mato partiu, deixando saudades nos funcionários da prefeitura, uma ou outra continha para sua esposa pagar e uma encrenca dos diabos para seu cunhado prefeito, enquanto ele, Zé do Mato, se transformava no rei de Vulvus, tendo direito a tantas consortes quantas pudesse dar conta e, provendo o planeta das meninas da certeza de que a espécie seria perpetuada.
Anos depois o Zé voltou para a Terra, mas isso é outra história.