A virtude oculta

Um homem, juntando todo o ouro que possuía, o enterrou longe dos olhos das pessoas com a firme intenção de não só escondê-lo, mas também, sozinho, adorá-lo periodicamente. Passado algum tempo, sem ter consciência do que lhe ocorria, foi acometido por uma crise de sonambulismo. Nesse estado, andou pelos campos até chegar ao local onde havia enterrado o tesouro e desenterrando-o deixou-o à mostra. Em seguida voltou para seu quarto mergulhando em profundo sono. No dia seguinte, sem nada lembrar do ocorrido, dirigiu-se ao local onde enterrou sua preciosidade para certificar-se de que continuava bem enterrado.

Ao chegar na área demarcada, surpreso e assustado, encontrou o buraco aberto com todo seu ouro espalhado pelo campo. Então bramiu:

— Quem será que fez isso? Ou foi um animal estúpido ou algum desafortunado ignorante!

Bufando e esbravejando consigo mesmo, recolheu todo o tesouro olhando rapidamente para os lados antes que alguém aparecesse, enterrando-o em outro lugar.

Isso acontecia de forma recorrente. Cansado de presenciar tamanho desatino, resolveu montar guarda para pegar em flagrante o malfadado incógnito.

Madrugada adentro e nada de aparecer quem ou seja lá o que fosse. Cansado e pronto para voltar eis que surge a poucos metros uma silhueta humana masculina bem alta provavelmente com mais de 1,80m. De andar estranho, parecendo um autômato.

— Ora vejam só... é um sonâmbulo, só pode ser! Então é isso! Não sabia que havia sonâmbulos por aqui. Mas espere... o que ele está fazendo?

O insone visitante carregando uma caixa, parou próximo ao local onde, aparentemente sem o saber, estava enterrado o tesouro do observador. Agachou-se, cavou fundo e trocou a caixa que trazia pela que enterrada estava; retirava o ouro nela contido espalhando-o aleatoriamente pelo terreno. Após esperar o afastamento do sonâmbulo, correu até o local e desenterrou sofregamente a caixa. Era exatamente igual a que utilizou para “guardar” o seu tesouro. A não ser pelo seu conteúdo. Ou seja, nada! Absolutamente nada havia dentro da caixa.

— Esse sujeito tem tanto de maluquice quanto de ousadia!

Resolveu segui-lo para descobrir o que o estranho fazia com o seu tesouro.

Descobriu então que o indesejado visitante, colecionava CAIXAS VAZIAS; milhares delas! Não tinha nenhum interesse no ouro ou em qualquer outro objeto que nela estivesse contido.

O que parecia era que apenas o vazio das caixas tinha para ele mais valor do que qualquer quantidade de ouro.

Intrigado com esse fato, resolveu procurar o insólito colecionador.

Bateu à porta da única casa das imediações e uma senhora de baixo de seus 85 anos atendeu de forma simpática.

Ele então, meio sem jeito, explicou-se ou tentou, e disse que gostaria de falar com o colecionador.

A senhora simpaticíssima, lhe disse:

— Meu querido, sou viúva e moro aqui há mais de 50 anos sozinha. E não tenho filhos. Sinto lhe dizer mas acho que o Sr. se enganou de casa.

Sem graça saiu despedindo-se da Sra.

Chegou em casa foi direto para o chuveiro. Era o que estava precisando.

Lá fora, no quintal de sua casa, seus dois cachorros disputavam brincalhonamente, pedaços de várias caixas vazias espalhadas pelo terreno.

leandro Soriano
Enviado por leandro Soriano em 25/08/2009
Reeditado em 16/01/2014
Código do texto: T1773736
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