Dirigível

Os olhos fixados no céu acompanhavam o Graf Zepelim vagando pelos ares mostrando a enorme capacidade tecnológica dos alemães; não esperávamos que pouco tempo depois a corpulenta aeronave fosse destruída pelo fogo, e muito menos que os alemães fossem invadir a Polônia iniciando a história da segunda guerra mundial. Ao visitar Berlim veio-me à memória aquele período da infância, em que eu entendia bem as questões em geral, mas achava que com brasileiro ninguém podia; por isso depois do décimo oitavo navio brasileiro afundado em suas próprias águas territoriais, achei que deveríamos declarar guerra à Alemanha e quem mais se metesse conosco, pois, era o momento de nossas forças armadas arrasarem os supergringos; planejei minhas trincheiras e transformei Hitler, Mussolini e Hiroito em alvo de minhas caricaturas, para lhes dar uma demonstração, de que brasileiro já nasce herói. Acompanhei as campanhas de recolhimento de alumínio para ajudar no esforço de guerra, formando-se as famosas “pirâmides de alumínio”, onde pontificava a do Largo da Carioca, próxima ao tabuleiro da baiana, como era chamada a cobertura de proteção do ponto de bondes que ia para Santa Tereza. Eu pouco contribui para ajudar a pátria, pois, as panelas de alumínio que tínhamos em casa não poderiam ser doadas; eram poucas e fariam falta, embora eu me sentisse como um traidor da pátria. Na realidade, tempos depois eu tomava conhecimento de que aquela manifestação de juntar cacarecos de nada servia; mesmo as pirâmides de cigarros vagabundos que juntávamos só serviam para que os americanos rissem de nós. Quanto ao heroísmo verifiquei não ser tanto quanto eu pensava, pois, os oficiais não queriam saber de guerra e treinavam os R2 para substitui-los na frente de batalha. Foi criada a Força Expedicionária Brasileira mandada para a frente italiana; havia soldado que nunca tinha dado um tiro, mas o ditador Getúlio Vargas achou que seria importante a FEB e seus pracinhas exibirem-se no frio europeu; dizem as más línguas, que a maioria de brasileiros mortos, o foram pelo fogo das armas de quem estava na retaguarda. Volto a lembrar a figura de “Molambo” vizinho nosso e que foi transformado em herói; felizmente conseguiu sobreviver e retornar à família, embora louco varrido. Eu cumpria meu papel de minar o poderio do trio maldito, com minhas caricaturas e histórias arrebatadas, mas sem confiar muito, pois, tinha cavado muitas trincheiras para qualquer emergência, nos terrenos do clube Ás de Ouro. Tive meus momentos de preocupação, como por exemplo, quando o Repórter Esso comunicou a morte de Franklin Delano Roosevelt. Desconfiava do substituto Harry Truman, como incapaz de derrotar o eixo. Menosprezei o homem, que alguns meses depois, mandou duas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. Só não mandou uma em Tóquio, pra não acabar de vez com a Ilha de Cipango. Onde as ruas não tinham mão nem contra-mão, onde lanterna de papel era lampião e onde suicídio se chamava hara-kiri.