Aqueles olhos

Um grupo de pessoas se encontravam à rua, em uma espécie de roda. Pareciam todas admiradas com algum objeto ao centro do círculo que formavam.

Com certeza algo grave acontecera ali, algo ruim. Podia-se saber disso pela expressão franzida - de indignação talvez, misturada a certa curiosidade - daqueles que olhavam para certo ponto no centro do tumulto, também pelos murmuros em tons graves, preocupados daquelas estranhas pessoas.

Tentei enxergar o que olhavam, a distancia. Estiquei os calcanhares, o pescoço, em vão. Resolvi me aproximar. Avistei uma pequena garotinha que chorava muito. Estava abraçada a uma mulher. Presumi que era sua mãe. Também chorava, de forma mais amena, contudo... seus olhos!

Que lindos olhos!

Azuis! Como não se podia imaginar. Faiscavam dor. Tanta dor! Me perdi naquele rio cuja nascente era extremamente vermelha, pois lhe escorriam lágrimas, e desembocava em pupilas negras, como um fosso. Pareciam dizer algo, implorar.

Sua íris era um lago em movimento, ao mesmo tempo em que se mantia fixa em meus olhos.

Aproximei-me lentamente e antes mesmo de chegar ao centro daquela pequena multidão, eis que me insurgiu um estranho desejo... um estranho sentimento. Como se eu tivesse me entristecido... Não fazia sentido. Não sou uma pessoa emotiva, pelo contrário.

Baixei os olhos. Fiquei estático, estarrecido, com o bizarro objeto que se encontrava ao centro, e surgia à minha frente. Não acreditava no que estava olhando. Não conseguia mais pensar em nada. Era possível que aquela atrocidade tivesse sido cometida por um homem?

Voltei-me aos olhos azuis. Pareciam querer me contar uma história. Eu estava disposto a ouvir. Mergulhei novamente através deles...

Não pude, entretanto me demorar muito naquele lugar, tinha diversas ocupações a cumprir no dia, e não era uma delas desvendar aquele acontecimento. Escapei dali, logo que pude, sentindo um embrulho no estômago e uma estranha sensação de vazio.

Tinha que preparar a bagagem pra viagem, organizar alguns documentos, colocar minha cabeça no lugar. Esta que, aliás, parecia um vulcão naquele momento. Tinha que realizar um congresso na empresa a respeito das modificações no mercado de seguros, e não havia ainda encadeado de forma apropriada as idéias e tampouco finalizado os slides da apresentação. A apresentação seria numa cidade de pequeno porte, em uma sucursal da empresa que ia de mal a pior.

A cidade que era antes calma e pacata, começava a esquecer seu passado e compartilhar do mesmo problema que praticamente há em toda cidade no mudo, a violência, resultada do tráfico, do mal planejamento do governo em relação ao desenvolvimento das cidades, das políticas públicas. As margens de lucro tendem a subir sob essa lógica, e tudo que importa são as cifras. Em tempos atrás os moradores praticamente dormiam de portas abertas, agora eram alvo freqüente de roubos e deterioração de patrimônio particular. Os funcionários estavam aturdidos e não sabiam como lidar com a situação, pareciam ignorar, ou não querer aceitar a situação. Desperdiçavam as novas chances de negócio que apareciam - O que importa é o lucro; a vida se torna secundária - pra alguém como eu, isso definitivamente não era algo ruim. Ao menos, era no que acreditava fielmente, e, ou, o que muitos acreditam antes de conhecer a face do terror, do horror, da violência; resultado imediato dessa lógica.

Tinha tido praticamente três meses pra preparar a apresentação, mas não tinha conseguido, tendo em vista que havia empregado minhas energias em busca de sexo e diversão - ambos fáceis e baratos - Dos últimos dois meses, então, não me lembrava absolutamente de nada. Era como se uma borracha houvesse passado na minha memória; só um grande borrão nebuloso que nada significava existia ali. Mas o barato sai quase sempre caro. Estava agora com uma inflamação no fígado; era chegada a hora de partir, e minha casa, como minha vida pessoal estavam uma bagunça. Isso se refletia no meu trabalho - de fato eu já não sabia o que refletia no que, efetivamente.

Tinha conseguido preparar a viagem de forma bastante aquém do que deveria ser - Bem! antes qualquer coisa do que nada. E afinal de contas, eram só alguns caipiras que provavelmente não entenderiam um apalavra do que eu diria. O que me importavam eram as cifras. Só assim eu poderia manter o estilo de vida que levava, se é que pode se chamar aquilo de “estilo”. Eu era um verme e bem sabia, mas desconhecia outra forma de viver, e enquanto eu ganhasse dinheiro, ao menos o gerente do banco perderia alguns minutos pra fingir que eu sou uma pessoa legal, os gerentes de hotéis, garçons. A morte não era muito pior do que a vida que eu levava, mas graças as deus existiam os antidepressivos que me mantinham vivo, num conceito bem reduzido de vida.

Envolto em pensamentos, lembranças, admirava a paisagem pela janela do carro, enquanto fazia uma pequena retrospectiva de todos os fatos ocorridos naquela semana. Arvoredos, morros, campos corriam em direção contrária ao que se seguia meu destino. Belas montanhas ao longe caminhavam lentamente, enquanto as árvores, mais próximas, passavam por mim como um raio. Uma visão relaxante. Uma paisagem sublime. Talvez eu precisasse rever alguns dos meus conceitos. Eu tinha que me concentrar nas cifras, aliás, a posição que eu tinha na firma não era uma fácil de se atingir, se não fosse a amizade que meus pais cultivaram na universidade, sei lá, nunca teria acontecido - Se dependesse de mim, seria impossível. Lembrava-me agora, não tinha amigos.

Fora os colegas de farra e as colegas de cama, não tinha ninguém, nem sequer desejo de estabelecer alguma relação com eles. À medida que eu deixava de me ver como um ser humano, também deixava de ver qualquer sujeito no mundo como um; daí tudo ficava mais fácil, o anti-depressivo ajudava.

Contudo, a imagem do garoto morto, há três dias, era chocante e insistia em não se fazer esquecer. Havia marcas terríveis do horror. Estava completamente desfigurado. Uma triste visão, que se eu pudesse teria evitado. Aquela imagem trouxe um transtorno emocional muito grande a mim, quase insuportável às vezes. A imagem da mãe daquela criança me entristecia, provavelmente lembrança da agonia que sofrera. Imaginava-me na situação dele. Ou dela - Qual será o destino que leva milhares de crianças nesse país? - Tomei uma dose de conhaque, o chegar da noite avançava. Não entendia uma lei que proibia alguém de beber e dirigir ao mesmo tempo. Dirigir era um tédio, mas melhor que pegar um ônibus, para se chegar a uma cidade que não tem aeroporto. As vezes achava que o álcool me fazia dirigir melhor. Desde que algum acidente meu não envolvesse algum segurado. Eu mesmo não tinha seguro algum.

Todos aqueles pensamentos que me ocorreram antes agora pareciam ter se transformado num desejo objetivo por sexo, um sexo selvagem, agressivo, que eu pudesse comprar. Sentia-me bem com essa idéia.

No acostamento, um acidente. Sirene do carro de polícia, outro grupo de pessoas em volta, dessa vez maior. Não parei, porque estava completamente bêbado, pelo menos não era uma fiscalização, se fosse eu teria de contar com a sorte de o oficial da lei desejar algum suborno. Tomara que não seja ninguém que dependa da empresa de seguros, o acidente foi feio. Nestes casos tínhamos de fazer de tudo para enrolar o pagamento, o que não era difícil, devido ao ciclo de amizades dos donos da companhia com uma gama de políticos e juízes. Caso contrário não seria um negócio lucrativo, jamais. Era tudo um grande negócio onde muitos saiam lucrando.

Logo em seguida, um motel. Resolvi pernoitar, não queria ser o próximo. A imagem co caminhão efetivamente mexeu comigo. Ali diversas mulheres, mais velhas mais jovens colocavam seu corpo a venda pra sobreviver. É o preço que o sistema cobra pra que pessoas como eu continuem tendo a vida que tenho. Como um bom integrante do sistema, fazia minha parte. Dessa vez não escolhi uma muito jovem, escolhi em função da cor dos olhos, e não estava num clima de cara legal. Eu precisava espairecer a tensão da semana, do congresso, da imagem daquela criança. Incrível como alguém pudesse cometer um ato daquele. Aqueles olhos, naquela noite eu fantasiei que estivesse com ela, como tudo na minha vida parecia também uma grande fantasia.

Logo retornei à cidade. O congresso tinha sido um sucesso. Um punhado de números, algumas políticas de contratação e de bônus fiduciário para alguns funcionários. Não tinha como ter sido melhor. Metade dali entendeu metade do que disso, e alguns mesmo perceberam o fracasso que eu representava na empresa. Contudo, todo mundo ficou feliz, o processo se cria por si só, era uma dádiva ganhar dinheiro sobre a violência, porque essa só tende a aumentar. Parece as vezes que em determinado momento o mundo vai implodir, e eu vou junto com ele.

Estava num restaurante no centro da cidade quando de repente perto de mim avistei a mulher que vira outro dia. Ela era deslumbrantemente linda. Senti um impulso louco de me sentar junto a ela e cedi. Não comentei a princípio nada sobre o que se passara naquele dia. Realizei os movimento habituais de aproximação cujos interesses não passam de uma noite. Eu a olhava e via um imenso objeto, um pedaço de carne. Ela falou diversas coisas que não dei a mínima importância. Depois teci alguns elogios, mas refreei alguns passos, ela estava evidentemente abalada com o que tinha acontecido e eu sabia até onde eu podia chegar em cada momento.

Como que do nada, ela fez uma referência ao incidente. Senti-me levemente desconfortável e novamente a dor na barriga começou a despontar. Aquela imagem me horrorizava. Senti no seu olhar qualquer coisa sádica. Não tendo alternativa cedi ao desabafo.

Os acontecimentos que se sucederam depois surpreenderam até a alguém como eu. Ela me flou de dificuldades financeiras e de diversas coisas sentimentalistas. Não conseguia ouvir nada do que ela dizia, mesmo que tentasse, não conseguia parar de olhar o belo par de coxas que ela possuía. E seus olhos, existia algo ali que eu desconhecia, e que, talvez por isso me atraía.

Naquela mesma tarde me propus a lhe acompanhar por um dia todo. Visitamos alguns de seus parentes, todos pareciam muito abalados. Todos me olhavam com uma estranha e tenebrosa impressão, que logo depois se tornava sádica, assim como a dela. Sinceramente me divertia com essa situação, depois da quarta visita, já esperava o mesmo movimento. Poderia me acostumar bem com aquela vida. Morrer não é sempre simples. Como sempre trabalhei na seguradora conhecia bem os tramites burocráticos desse processo. Fui á polícia, contratei a funerária, acompanhei todo a parte processual do caso. Ela sempre me fitava com um olhar que eu desconhecia, existia uma espécie de dor profunda e fúria ali. Qualquer coisa que eu já tivesse visto em algum assegurado quando tinha a contraparte da prestação negada. Negócios. Cifras.

Fomos à casa, que segundo ela, era do pai do garoto. Não se encontrava. O que era muito estranho de acordo com aquela mulher. Invadimos a casa e encontrei uma garrafa de conhaque pela metade, era da mesma marca da minha predileta. Precisava de um cigarro, um paletó estava sob uma cadeira, também me chamou a atenção, qualquer coisa nele. Tinha um maço de cigarro no bolso, estava pela metade, me agradava muito aquela marca, peguei a carteira pra mim, acendi um cigarro. Senti-me muito estranho, minha barriga começava a doer, minha cabeça também. De repente suas mãos pousam sobre meus ombros. Ela estava deliciosamente linda. Sem pensar avancei sobre ela lançando minhas mãos sobre suas costas e a boca sobre seu pescoço. Senti um empurrão e um tapa tão forte que o anel sem sua mão me causou um leva arranhão no rosto. Pedi desculpa, senti desejo de espancá-la. Nunca ninguém havia me batido, e eu podia espancá-la. Poderia matá-la ali e ninguém ficaria sabendo. É inimaginável o que um ignorante pode fazer, pelo simples fato de não compreender os desejos e anseios do outro. Alguns homens tornam-se verdadeiros monstros quando tem suas vontades contrariadas. Nesse momento voltei a mim. Não conseguia entender o que tinha acabado de pensar. Por um momento eu vi sentido no meu trabalho, experimentei um prazer em imaginar o caos e a violência no mundo, vi sentido no meu trabalho, estranhamente me senti diferente.

Tentei passar a consolar aquela pobre mulher. Seus olhos eram rio de uma dor insuportável e de uma fúria inconsolável, me afastei.

Eu me sentia perdidamente apaixonado... por aqueles olhos!...

Nos despedimos, fui pra casa. Naquela noite nenhuma noitada me parecia interessante. Mas a força destrutiva era mais forte em mim. Caí no primeiro bar que passei. Quando vi já estava em casa, sem cigarros, dinheiro e um olho roxo. Como eu ia trabalhar daquele jeito. Ainda eram cinco da manhã. Eu tinha mesmo pegado pesado. Ouvi duas batidas fortes na porta. Quem poderia ser? Novamente duas batidas, dessa vez mais forte. Uma voz rouca gritou subitamente: “Ou abre a porta, ou arrebento”. Bateu de novo. Eu... me encontrava paralisado.

Abri, fiquei atordoado.

Lá estava ela, com um revólver em sua mão.

Eu estava cansado, suado, só conseguia ver com um olho, porque o outro estava ainda mais inchado; percebi também que não conseguia movimentar um braço, e que uma região das minhas costelas doía muito, passei a mão e percebi que estava quebrada. Ela estava só. Limpei a testa, estava suando muito. Suor misturado a sangue.

Ela estava nervosa. Perguntei o que estava acontecendo. Ela devia ser provavelmente louca. Eu sempre me metia com umas malucas assim. Ou então o troço do filho tinha virado a cabeça dela. A situação era surreal. A minha reação ainda mais surpreendente. Lancei-me em cima dela, mas não pra tirar sua arma. Tentei beijá-la, eu queria lhe seduzir, eu não acreditava naquilo, devia ser uma tara de mais uma insana. O sistema é uma merda, uma hora ou outra todo mundo surta. Peguei um punhado de dinheiro que tinha no armário ao lado comecei a jogar pra cima. Eu amava aquela situação, e isso me irritava profundamente.

De repente comecei a chorar, sem entender o que estava acontecendo. Ela vai até o meu som, e o liga. Tira o casaco, e por baixo está vestindo uma roupa íntima preta e extremamente erótica. Como ela sabia do som. Ela poderia ter visto, mas aquela música... O batom dela estava todo borrado na boca, como achei engraçado. Ela estava com a garrafa de conhaque, me deu um gole. Aquela situação, ela. Agora me lembrava. Aqueles olhos azuis.

Eu conhecia o garoto assassinado. Já tinham vindo à minha casa umas duas vezes. Da terceira tinham decidido passar o fim de semana aqui, a mulher e os filhos, não objetei. Nada me importava muito. Tanto fazia. Mas gostava do garoto. Aquela criança que desconhecia de tudo no mundo, inocente. Ele me fazia feliz! Lembrava-me quando também tinha a sua idade.

Passavam o fim de semana na minha casa. Era um domingo. Eu sempre fêra um porco, e mesmo quando me relacionava com Marta, eu não mudara. Pra mim, ela era só mais uma de tantas. Com a diferença de ter aquelas crianças - tão diferentes de tudo que eu havia me transformado. Eu que havia sido como eles um dia.

Naquele dia tivemos uma baita discussão - acho que ela queria me ajudar - eu já estava completamente embriagado - lembro de ter perdido a cabeça e a ofendido, ela revidou, eu a agredi. Estava fora de mim. Ela queria ir pra casa chamar um táxi. Eu tinha bebido demais, e virado a caixa de anti-depressivo goela abaixo, estava comletamente fora de mim - agora me lembro - já tinha feito isso outras vezes. Mas dessa vez a situação saiu do meu controle. Os coloquei no meu carro. Tirei as crianças da cama. E ela vestida só em suas roupas íntimas e os levei pro carro, do jeito que estavam. A música que tocava era essa mesma que toca agora, uma porcaria eletrônica que não tinha sentido nenhum, assim como minha vida. Eu era mais um entre tantos.

A menina estava tão assustada que não conseguia se mexer. O moleque não parava quieto, não parava de me encher o saco. E eu não parava de beber. A mulher me estressava e comecei a agredi-la dentro do carro. O garoto tentou se intrometer. Parei o carro.

Sim! Eu era o autor daquele crime.

Na noite em que discutimos, me descontrolei. Sai do carro com o moleque no carro. Queria dar um susto nele. Não tinha controle sobre a minha força, sobre nada. Espanquei-o. Devo ter me assutado, me irritado. Saí de lá. Os deixei ali, possivelmente a noite toda.

Ela provavelmente deve ter entrado num estado de choque muito grande que ficou ali a noite inteira, até o dia seguinte. Eu tinha voltado pra casa, desmaiado na sala mesmo. Algumas horas depois acordei, o Sol ainda não tinha saído. Eu não lembrava de nada, saí andando pela rua. Era como se a noite anterior, assim como os últimos dois meses - desde o dia que a tinha conhecido - tivessem simplesmente sumido da minha cabeça.

Eu tinha me tornado um animal. Tinha me esvaziado tanto dos meus sentimentos, que havia me tornado um animal. Eu era a violência social, a perda de valores e princípios humanos, presentes na sociedade - mas, principalmente em mim. Era o resultado concreto das minhas escolhas - Há muito só via as coisas em termos de cifras - Era um animal, o pior animal.

Estávamos na sala. Ela percebeu que eu havia me lembrado. Minhas mãos cobriam o meu rosto. Tomava consciência agora. Tratava-se de vingança. Ela não estava só, vi a hora que outros dois homens passaram pela porta, apontaram pra mim - eles me olhavam com cara de nojo.

- O que você quer que a gente faz com ele, senhora? - perguntou a ela, um deles.

Ela fixava os olhos em mim e cada palavra sua ecoava em minha alma.

- O pior, o pior que puder imaginar, que ele dure o máximo de dias sofrendo. Tudo que faça um homem sofrer, quero que se aplique a ele. Eu pago, o que for preciso.

Terrível ironia.

Os dias que antecederam a sua morte foram terríveis. Conheceu a dor e o horror pela primeira vez. Verdadeiramente arrependeu-se de ter nascido. Sofreu toda a gama de tortura e humilhação que um homem é capaz. Os dias que seguiram à sua morte, contudo, foram ainda piores.

Arrependeu-se de toda sua vida vazia, de tudo que podia ser e não foi, que podia ter feito e não fez. Pensou que se tivesse se dado a oportunidade de amar, não estaria ali agora. Mas do que adiantava pensar isso agora. Era um animal e como havia sido encomendado, sofreu muito antes de morrer. Dores físicas e morais.

Entretanto desconheceu o frio de viver na rua, e a dor de ter a infância perdida, e uma vida condenada. Da violência que muitas mulheres sofrem diariamente em casa. De tudo o que sofreu, não representa em nada, nem perto, do que sofre o algum porque nasce do lado errado do mundo.

Esse é o preço pago, cobrado, pra que as coisas continuem, exatamente como estão.

Gregório Borges
Enviado por Gregório Borges em 28/10/2009
Reeditado em 29/10/2009
Código do texto: T1892613
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