ANTOLOGIA 
                         CONTO/POESIA/ILUSTRAÇÃO

            
 CONCURSO DE TALENTOS FANTASTICOS

                                         

                  CONTO SELECIONADO PARA A ANTOLOGIA 
                                 
TALENTOS FANTASTICOS
                       


  1ª Parte 

                O BEIJO DA MORTE


     Eram 2 horas da manhã, tinha acabado de deitar-me, no mesmo quarto dormiam os meus dois irmãos, quando fechei os olhos (paf) senti na minha face uma forte bofetada, saltei da cama assustado, acendi a luz e o som que ouvia era apenas o que eu fazia com a minha respiração ofegante, olhei e nada de movimentos estranhos, pois julgava que tinham sido os meus irmãos, nada… nem um pestanejar de olhos, depois de ter verificado minuciosamente, constatei que dormiam profundamente, a minha face latejava, sentia o calor do sangue fluir, estava ao rubro, fui à casa de banho e tinha a marca de uma mão e a cara vermelha, era impossível, devia estar a sonhar pensei eu, a não ser… não podia ser, no entanto fui até á porta do quarto dos meus pais, mas apenas ouvia o ressonar de meu pai, e pela violência da bofetada só poderia ser dele… mas ressonava como era hábito... voltei para a cama.

     Estava ainda a pensar no sucedido, difícil de imaginar quanto mais acreditar, com algum receio fui fechando os olhos, passados uns momentos suspirei de alívio, parecia-me que tudo tinha passado, (paf). – Ai! Novamente… Só que desta vez fui mais rápido e de um salto tinha acendido luz e estava junto dos meus irmãos, nada dormiam. Tinha de dormir um pouco, lembrei-me então de histórias que ouvia ao serão e murmurei: - seja quem for, se vem por Deus que fale, se vem pelo Diabo que o inferno o carregue e com isto o sono venceu-me.

     Os anos passaram-se, casei-me e um dia estava no quarto deitado a ver televisão quando a minha esposa entrou e viu-me de olhar fixo e as lágrimas a correr pela face. Interpolado por ela nada contei e tentei dormir.

     Durante todo o dia aquele pensamento zoava na minha cabeça e sentia a face dormente com uma sensação gélida. Tinha de concentrar-me no trabalho, era técnico e trabalhava na reparação de um gerador eólico, a uma altura de cinquenta metros e com correntes eléctricas de fritar miolos, todo o cuidado era pouco, basta recordar a horrível morte do Manuel o meu ex colega, que ao ser electrocutado ainda foi projectado contra umas das pás ficando decapitado e a sua cabeça rolou pela montanha abaixo, sendo encontrada após duas semanas na boca de um cão que passeava pela aldeia como se fosse um troféu de caçada.

     Dentro daquela gaiola o barulho era ensurdecedor, apenas conseguia ouvir os meus pensamentos, mas … ouvi um telemóvel, quase impossível naquele local, onde o vento lá fora empurrava as pás de trinta metros fazendo rodar aquele gerador que crepitava de voltagem bruta, mas que ouvia não havia dúvida, acho que estava a ficar maluco, de manhã duas bofetadas e agora o telemóvel a tocar, de repente chamam-me pelo rádio VHF meu melhor amigo e companheiro, já me salvou duas vezes de ter ficado preso na cabine, porque o elevador tinha resolvido ficar avariado. Ah o rádio não se calava tinha de responder senão tinha logo uma equipa à minha procura, bem acho que fiz mal ter deixado o meu novo colega dar uma escapadela, conheceu uma miúda linda de olhos azuis na aldeia e resolveu ir ter com ela e pedir-lhe o nº de telefone… homens! Ainda vou ter bronca.