As vozes

- Foi ela quem me contou, eu juro! - disse a primeira voz.

- Mentira sua. Como é que ela ia contar a você uma coisa dessas? - falou a segunda.

- Ah! sei lá. - disse a primeira voz dando de ombros.

- Mas, ela nem te conhece direito. Eu, sim, a conheço desde moça. - quae indignada a segunda voz.

- Talvez por isso mesmo. Se ela te contasse você ia lembrar que conhecia ela desde moça, lembrava pai, mãe e irmão. Aí ela teve vergonha. Mas, eu como faz pouco tempo que a conheço, não faz diferença. - disse a primeira voz num esforço de compreensão.

- Como foi que ela disse? - a segunda voz estava carregada de curiosidade.

- Ela tava chorando, aí me contou assim, de rompante, no meio das lágrimas... - havia um princípio de constrangimento na primeira voz.

- E não te pediu segredo? - inquiriu a segunda voz.

- Pediu não. Se tivesse pedido mesmo assim eu te contava, uma coisa dessas pesa no peito da gente. - falou a primeira voz com agonia.

- Mas, é feio sair contando o segredo alheio. - sussurrou a segunda voz, pensativa.

- Eu sei! Mas que você queria? Eu fiquei sem fala, nem soube consolar, nem dizer nada. Fiquei passada... E outra, eu nunca que esperava isso dela. - disse a primeira voz chocada.

- Coitada! Cada um tem seus motivos, né? - a segunda voz era toda compreensão.

- T'esconjuro! Eu não! - a indignação coloria de vermelho a primeira voz.

- Eu não o quê? - disse a segunda voz ironicamente.

- Ah! Preferia morrer, viu? - proferiu, corajosa, a primeira voz.

- Ninguém quer morrer. - disse a terceira voz.

- Quem é você? - perguntaram, em uníssono, a primeira e a segunda voz.

- Ninguém, de fato - disse a terceira voz, surdamente - só uma voz a mais na multidão.

Foi-se então o segredo, na escuridão.