O DESAVESSO DA MENTIRA (A vingança das mineiras)

As duas primas mineiras ainda estavam chateadas com as primas cariocas. Não engoliam o fato de terem sido motivo de gozação e deboche no episódio da farsa dos escravos mortos-vivos da fazenda.

As cariocas eram muito espertas e não cairiam facilmente em armadilhas, por isso as mineiras gastaram horas bolando a desforra.

A oportunidade surgiu nas férias seguintes.

As mineiras foram desta vez para a casa de praia dos pais de uma das cariocas.

Como não havia empregados, as mineiras se encarregaram da cozinha e as cariocas da arrumação da casa.

As cariocas apreciavam o pão-de-queijo e adoravam os caramelos tipo ‘puxa-puxa’, vendidos em pequenos bastões embrulhados em papel de seda colorido. Guloseimas bem mineiras.

Desfeitas as malas, as mineiras guardaram os suprimentos nos potes em armários enquanto as cariocas varriam a casa e arrumavam as camas.

Os dias transcorriam felizes, com muito sol, mergulhos e o bronzeado que a pele aos poucos adquiria.

Uma tarde, as cariocas quiseram comer os caramelos e se lançaram ao pote, removeram o papel e deram uma mordida.

- Eca! Que gosto estranho!

Cuspiram fora aquela massa oleosa e fedorenta grudada nos dentes! Quase vomitaram.

As mineiras fizeram bastões com massinha de modelagem, embrulharam como caramelos de verdade e aguardaram a reação das primas cariocas.

Dias depois as mineiras resolveram fazer pão-de-queijo com o preparo já comprado pronto. Os pães assados e cheirosos foram colocados numa cestinha. Uma das primas cariocas serviu-se com um pãozinho e na primeira mordida soltou um grito:

- Que treco horrível! Acho que quebrou meu dente! Que sacanagem!

As mineiras haviam incluído na compra dos suprimentos os modelos usados como mostruário de vitrine. Tais modelos são perfeitas cópias dos produtos de confeitaria. Foram misturados aos verdadeiros pães-de-queijo na cesta.

As férias chegaram ao fim. Antes, porém, as mineiras fizeram a última maldade: colocaram no vidro de xampu das cariocas um bocado de azeite!