Na porta do hospício

Ernani Maller

Tocou a campainha da garagem do hospício e o guarda foi atender, abril uma pequena uma janela que mostrava apenas parte do seu rosto no meio do grande portão de ferro, um senhor de meia idade aparentando muita tristeza perguntou:

_ É aqui que é o hospício?

_ É sim. Respondeu o guarda.

_ Eu vim me internar.

_ Quem mandou o senhor?

_ Ninguém, eu vim por minha conta, eu “tô” maluco.

_ Mas hoje é domingo, e só esta o médico de plantão, ele só atende os pacientes que já estão internados, o senhor tem que voltar amanhã as dez da manhã e falar com o doutor Renato.

_ Mas caso de emergência, esse médico que está aí não atende?

_ Atender ele atende, mas o seu caso não é de emergência.

­_ Como não?

_ Caso de emergência é quando chega em camisa-de-força.

_ E onde eu consigo essa tal camisa-de-força?

_ Eu não sei não, é o pessoal da ambulância que tem.

_ Será que eu não posso dormir aqui para amanhã eu falar com o doutor? Eu sei que ele vai me internar mesmo.

_ Não pode não, o senhor tem que voltar amanhã. Mas eu trabalho aqui ha duas semanas e já tenho alguma experiência, posso lê adiantar uma coisa.

_ O que? _ Perguntou o candidato a paciente.

_ O senhor não ta maluco, não.

_ Como é que o você sabe?

_ Eu sei por que o senhor afirma que está maluco, não é?

_ É.

_ Então? Quem está maluco, não sabe que está maluco, portanto, se senhor acha que está maluco, é porque o senhor não está maluco.

_ Tem certeza?

_ Tenho.

_ Então o que, que eu faço com essa tristeza e essa angustia no meu peito?

_ O senhor vai pra casa, toma um copo de água com açúcar, senta quietinho num canto que isso passa.

_ Sério?

_ Sério.

_ Então “ta” bom, muito obrigado.

_ De nada.

Deve ter dado certo, o homem nunca mais voltou.