A PISCINA

Um olho redondo, azul; a água límpida tal como lagrimas de um olho mono.

Pronto: corpos se jogam, as lagrimas fremem ao baque dos corpos; são corpos quase desnudos. Rapazes que nadam peito livre, borboleta, dão braçadas violentas, param ao meio do olho azul lacrimoso, sacolejam-se como se fossem garrafas que precisavam ser agitadas para beber ( Agite antes de beber).

Olha, espia só, vindo meninas, magricelas, com apenas a parte de baixo do biquíni; os seios balançam quando dão um pulinho antes de dar o salto e “tibum”.

Que felicidade, olhem quanta algazarra. Dentro de um olho azul, mono, lacrimoso, sob um sol escaldante quase de deserto. Pode-se ver dali as montanhas rochosas secas, pontiagudas recortadas no horizonte da cor do olho atingido, enxovalhado. Acontece um cacto junto ao muro de pedras que cerca o olho azul lacrimoso.

E abaixo? Abaixo daquele patamar, pois pode se descer uma colina pequena caso se ouse escapulir ou escalando o muro ou passando pelo portão. Passando pelo portão descera degraus de mármore, ou pelo portão contíguo a rampa que dá para a garagem, mas escapulindo pelo muro vai se descer por pedras pontiagudas com perigo de rolar ribanceira abaixo e esborrachar-se lá na rodovia, esmagado por um monte de carros; com sorte, se pode se chamar de sorte, poderá ficar preso entre algumas pedras pontiagudas.

Uau! Estão se agarrando, rapazes e moças, e talvez rapazes e rapazes também. São tantos. Deve ter uns vinte ou perto de. Um pouco de zoom neste olho azul e lacrimoso. Assim... Assim. Pronto: Beleza, estou vendo um carinha de cabelo comprido carregando uma menina nos ombros, equilibrando-se na água, e mais acolá, dois rapazes parecem muito juntos como se um mais forte medisse a costa do mais fraco. Ali, ali, ali peguei: Um rapaz mulatinho esta apalpando os dois seios de uma menina ruiva; agora se colaram tanto que nem sei, nem é bom se aproximar muito. Alguém emergiu do fundo do olho azul lacrimoso, fez fremir todo excesso de lagrima ao seu redor, saiu pela borda do olho, pisou o chão liso. Parece liso o chão onde o olho esta fincado, lacrimoso, vendo tudo, embaçado com certeza. Enxerga aquele céu azul, bem azul, brilhante no sol escaldante onde agora obrumba o vôo de dois abutres. E se for falcão ou águia? Não, deve ser abutre, pois verifique bem o cacto que acontece ali junto ao muro de pedras, verifique a possibilidade de se escapulir pelos muros.

Os cachorros... ( Cachorros?). Cachorros latiram ontem a noite. O olho azul fremiu desesperado a sua lagrima doce e estagnada. Na escuridão ele apenas enxergou o céu malhado de estrelas, e sentiu um vulto escuro e rápido, tão rápido, porém, mais rápido era o ruminar raivosos dos cães.

E aconteceu o cacto.

Algo mergulhou na escuridão. Não foi no olho azul lacrimoso. Apenas fremiu sua tépida lagrima abundante. Culpa da brisa seca que vem de trás dos vales rochosos.

Um rapaz, de cabelos enroladinhos, arrisca um olhar alem do muro, contudo muito alto, e com o dedo ajusta a sunga nas nádegas magras, molhadas de um banho de lagrimas e vira as costas no momento em que os dois abutres descem em vôo obliquo em direção a ribanceira de pedras.

Rodney Aragão