UMA NARRATIVA FANTÁSTICA

UMA NARRATIVA FANTASTICA

Caro leitor (a)! Esta narrativa que escrevo, foi por mim ouvida diretamente do senhor Beltrano de Tal, (pediu para omitir seu nome, pois não quer ser taxado de lunático).

Era um dia de final de outono, o frio que fazia era deveras crucial, o vento que soprava lá fora fazia com que não tivesse o mínimo desejo de sair de casa.

Ouve-se o soar da campainha, por volta das dezenove horas, à noite já caíra a mais de uma hora, penso intrigado - quem será a esta hora, que se arrisca a sair com um tempo deste?

Abro apenas meia folha da porta, estico o pescoço para fora e vejo do outro lado do portão de aço, um vulto de homem encolhido dentro de um capote.

- Que deseja – pergunto?

- O senhor não me conhece, mas eu gostaria muito de conversar com o senhor.

- Se é vendedor ou pregador de religião não estou disposto a recebê-lo há esta hora e com este frio, talvez em outra oportunidade.

- Não se trata nada disso, senhor. Sei que o senhor escreve contos e eu tenho algo intrigante para revelar-lhe.

Dito isso, aguçou-se em mim a curiosidade, acionei o magneto do portão e ele adentrou.

Franqueei-lhe a porta ele entrou e logo a fechei, para interromper a entrada do ar gelado.

Sem nada dizer, mas com um olhar bondoso, parou a minha frente e despojou-se do, sobretudo e o alcançou para guardá-lo.

Fiz-lhe sinal para uma poltrona, jogou-se nela e se recostou. Olhou para mim com um olhar introspectivo.

Um homem de personalidade forte, com um lábio fino, e um queixo comprido que sugeria resolução que chegava às raias da obstinação.

De repente levantou-se e começou a andar de um lado para o outro, rápido e impaciente, o queixo afundado no peito e as mãos cruzadas nas costas.

Tinha um físico privilegiado para a sua idade. Completamente calvo, com altura de um metro e setenta e três, pesando pouco mais de sessenta quilos, podia-se dizer esbelto, se não se considerar que tinha o corpo arqueado, por um pequeno desvio da coluna.

Ficou, então, de pé em frente à lareira e olhou para mim com aquele seu olhar introspectivo.

Com voz mansa e pausada disse:

- Sou uma pessoa de setenta anos, e que vive na encosta de dois morros, numa cidade perto de Porto Alegre. Era manhã de um sábado e cedo já estava me preparando para mais uma vez ir para o pequeno sitio, distante a poucos quilômetros de minha casa. Coloquei comida para o almoço em diversas cumbucas plásticas, embarquei no carro e segui para o sítio.

Naquele dia iria fazer a capina de inços que estava infestando o pasto, peguei uma pequena inchada e foi carpir no pátio.

Já fazia mais de uma hora que estava na rotina, carpia um pouco e ia me sentar em uma cadeira de balanço que estava estrategicamente colocada sob o alpendre da casa. Em determinado momento, quando trabalhava, senti um forte latejar no lado direito da cabeça, seguido de uma espécie de ferroada. Senti-me tonto e logo me dirigi à cadeira e ali me sentei para relaxar, com a finalidade de ver se passava o mal estar. Naquele torpor, sentindo ainda os efeitos daquele episódio, comecei a me auto-sugestionar, pensando que tudo não passava de um efeito do trabalho exagerado que estava fazendo.

Nesse estado pude ver que havia movimentos ao meu redor e pensei

- “devem ser médicos que estão me assistindo, devo estar em um hospital”.

Mas logo notei que ainda estava no sítio, sentado na cadeira de balanço e que ao meu redor estavam pessoas a quem não podia ver direito, parecia que se movimentavam como fossem sobras, claras até mesmo podia ver certa claridade saindo de seus corpos.

A energia vibracional dos seres translúcidos que flutuavam ao seu redor, segundo o narrador, era muito mais elevada do que a energia que se sente quando nos aproximamos de uma rede de alta tensão.

- Os que se movimentava instalaram em minha cabeça uma espécie de bandana, que me cobria dos olhos para cima.

Tento me levantar, mas estava paralisado, logo noto que o mal estar já havia passado, quando presto atenção e pode ouvir alguns sons, que de início não os podia compreender, mas as vozes foram ficando audíveis, parecia que entravam direto em minha mente, podia ouvir e entender tudo o que eles diziam. Aquele que parecia que coordenava disse:

- Ele teve uma obstrução na carótida direita, teremos de fazer uma intervenção em sua hemodinâmica, já está confortável, mas terá de ser removido para a nave, temos de remover o coagulo.

Logo senti que a cadeira, onde estava, iniciou a se movimentar para cima e logo começou a avançar como que estivesse flutuando no ar, pode ver com pouca nitidez que ao seu lado estavam quatro seres iluminados, que tive a impressão de que estavam transportando a cadeira, em que eu estava.

Entraram em uma densa serração e logo chegaram a uma parede metálica a semelhança de aço inoxidável. Um dos seres acionou um pequeno aparelho e todos atravessaram a parede como que ela fosse inexistente.

Espantado perguntei com voz tremula: Como isso pode acontecer?

Logo recebi em minha mente a resposta que dizia: Uma simples anulação de forças repelentes em objetos sólidos. Isto permite que os atravessemos fisicamente.

Uma vez a bordo, fui submetido a vários procedimentos e testes físicos.

Logo me vi deitado em uma espécie de calha que se movimentava para todos os lados, colocando-me em aposição de cabeça para baixo. A bandana foi-me retirada e substituída por um aparelho, que foi apoiado em minhas têmporas.

O aparelho tinha na ponta de ligação com o corpo, umas pequenas agulhas que por vezes

transmitia uma corrente elétrica, ou estímulos elétricos, deixando o pescoço momentaneamente dormente e uma sensação localizada de ardor na pele.

Logo senti um zumbido, igual ao que havia sentido quando estivera trabalhando e tudo escureceu.

Despertei quando ouviu o barulho do carro de minha filha, que acabara de chegar, dele saíram; minha esposa, minha filha, as duas netas e o namorado da mais velha. Procurei saber que horas era e vi que passava das dezesseis horas, não sabia o que me havia acontecido, não sentira o tempo passar, apenas lembrava com nitidez que fora acometido de um mal súbito e tinha me dirigido à cadeira de balanço, onde estava naquele momento. Tudo o mais me pareceu ter sido um sonho, por isso resolvi não contar nada aos que acabaram de chegar. Disse-lhes apenas que desde cedo me sentira acometido de um mal estar, mas que havia passando.

Otrebor Ozodrac
Enviado por Otrebor Ozodrac em 04/04/2010
Reeditado em 20/05/2011
Código do texto: T2177022
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