História de pescador

Ontem à noite, perto de meia noite, eu me preparei para ir dormir. Antes, como de costume, fui tomar meu sagrado banho.

E meu banheiro, como a maioria de hoje em dia, é bem pequeno. O vaso sanitário fica a pouca distancia do chuveiro.

Bom: eu estava todo ensaboado, com os olhos fechados, por causa do sabão, quando senti uma coisa estranha, enorme, roçando na minha perna. Levei um enorme susto e então abri os olhos para ver o que era. Tratava-se de uma enorme sucuri, que saíra de dentro do vaso sanitário e cismou de enrolar na minha perna direita. E começou rapidamente a se enrolar e apertar. Queria me jantar?

Pensa o susto que levei,vendo aquilo! Se eu sofresse do coração, certamente teria morrido só de susto. Quando imaginaria aquilo. E olha que minha casa é bastante longe de mananciais. Como aquela coisa foi parar em minha casa? E comecei a me debater, para me livrar dela.

E se eu estivesse dormindo, ela entrasse casa a dentro e me atacasse dormindo? E se na minha casa tivesse criança, e fosse atacada? Seria uma tragédia.

Mas a realidade dos fatos é bem outra e eu estava com o problemão enroscando em minha perna e já começava a forçar a barra. E eu percebia que ela tinha dificuldade em se enrolar mais forte, estava escorregando por causa do sabão.

Então, num instante de impulso, peguei o sabonete e comecei a me ensaboar mais, acima de onde ela estava e abri levemente chuveiro, imaginando que com a água corrente desceria o sabão para onde o bicho estava. E percebi que dava certo.

Mas isso não resolvia o problema, a coisa tava sem controle ainda. Eu estava sozinho, altas horas, não adiantava muito eu começar a gritar por socorro. A casa estava trancada, eu não via como algum vizinho poderia me ajudar. Além do mais eu achava constrangedor, eu nu, debaixo do chuveiro, ter de encarar esse vexame.

Foi então que lembrei que já me disseram, que quando uma sucuri ataca, a única coisa que a faz desistir é meter o dedo no olho dela. E então parti para o ataque. Eu realmente tinha de fazer algo, antes que o sabão parasse de fazer efeito.

E taquei o dedo no olho do monstro. E realmente fez efeito. Ela afrouxou minha perna e então num solavanco consegui me desvencilhar e saí de perto. Antes tive o cuidado de baixar a tampa do vaso, para que ela não fugisse. Saí do banheiro e fechei a porta atrás de mim. Mas, como eu estava ensaboado, escorreguei no corredor e levei o maior tombo que se possam imaginar. Penso que me machuquei, mas a pressa em me levantar era tanta, que só percebi isso mais tarde. Meu medo maior era de o bicho sair e me atacar ainda deitado.

Mas felizmente a porta estava fechada, ela estava do lado de dentro.

Agora era hora de ligar para os bombeiros e pedir para tirar aquela coisa de dentro de meu banheiro. Ligar, eu liguei. Difícil foi convencer ao atendente de que aquilo não era um trote. Fui advertido que eu seria penalizado se fosse falso chamado, etc. Mas felizmente minha insistência era tanta e tão convincente que o homem acreditou. E prometeu enviar socorro.

Só depois disso lembrei que ainda estava nu. Vesti uma bermuda. Senti que eu estava fétido. O bicho exala odores estranhos, que ficaram impregnados em minha perna. Após me vestir eu corri para a rua, para esperar o socorro. Felizmente não demoraram a chegar.

A princípio estavam meio incrédulos, mas resolveram entrar e conferir. Fui na frente, indicando o caminho. Mas não me atrevi a abrir a porta do banheiro, me limitando mostrá-la, para que eles mesmos a abrissem.

O homem a abriu e deparou com uma enorme cobra num canto do banheiro, no que levou um enorme susto, chamando seu colega que estava do lado de fora do banheiro. Eu saí de perto, deixei eles cumprir a sua missão. Demoraram alguns minutos, até que saíram carregando aquele monstro, um deles a segurava pelo pescoço. A levaram embora, não sei qual seria o seu destino. Antes, preencheram um formulário e pediram a minha assinatura.

Nessa altura do campeonato, a vizinhança já estava acordada e minha casa foi invadida por mais de meia dúzia de curiosos.

Só se via espanto e exclamação do tamanho bicho, etc.

Quanto a mim, precisava de um banho, estava horrendo! Já se passara das duas horas da madrugada. Entrei, me preparei para o banho, mas antes tinha de lavar o banheiro, estava imundo. E quem disse que eu conseguia ficar à vontade? Impossível. Baixei a tampa do vaso e botei um peso sobre ela. Só então conseguir lavar o banheiro e tomar meu banho. E então percebi que tinha hematomas pelo corpo. Uns pelo ataque do bicho, outros pela queda no corredor.

Consegui terminar o meu banho. Mas dormir, nem pensar. Desligar a luz? Pior anda. Passei o resto da noite em claro, vendo TV. E com sobressaltos a todo instante. Tudo era motivo de me assustar e verificar o que era.

É esperar a próxima noite, para ver se consigo dormir.

Fico pensando: deveria ter fotografado o bicho, senão ninguém irá acreditar. Mas Não pensei nisso quando era possível. Provavelmente muitos vão pensar que isso se trata apenas de mais uma história de pescador.

Faria Costa
Enviado por Faria Costa em 30/06/2010
Código do texto: T2349599
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