Madrugada Cão.

Percorri durante séculos as entranhas do mundo e nada encontrei além da morte certa e estranha.

Varri as poeiras cósmicas e percebi então que varria também minha própria composição.

Sou um sujo de hoje e de outrora, e sinto que assim sempre o seremos.

Não anseio o ser profético muito menos o poético, desejo ao menos um lugar ao sol, ou à sombra, ao menos.

Não há corujas ou gansos que me façam sucumbir. O hoje se foi o porvir há de sorver...

São horas altas de uma madrugada cão. Penso que nada foi em vão, na incessante repetição do vivido desde então.

Como Charles Baudelaire em suas agruras, percorro minhas inconstâncias murmurando a cada palavra dita o cujo significado seu mais intrínseco.

As portas e as janelas de casa provavelmente estarão trancadas quando chegar. Talvez fosse melhor que não chegasse, que não creditassem minha existência. Quem sabe assim “sofreriam menos!”.

Cristiano Covas – 8.4.2006

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 05/07/2010
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