A Moon And A White Car.

Aquele me trouxe uma pelota na garganta; mal consegui falar.

Cerveja é bom! Conforme se vai bebendo, o negócio desce.

A hora que chegar em Franca a garota logo perguntará se cheirou lança-perfume. Se comprar, tem que usar!

_ Cara, sinceramente, vou ter que ir a minha casa, cagar!

_ Meu, usa o chuveiro!

_ Não! Não! Vou ter que tirar o tênis! Vai ser uma porra!

_ Larga de ser preguiçoso, meu! Vai lá! Caga de qualquer forma mesmo! Afinal, não vejo conveniências no ato de se cagar! Já vi gente cagar até no meio da rua!

_ Não, abre a porta lá, cara, que vou até em casa a pé mesmo!

Enquanto as circunstâncias ocorriam de forma raulseixisticas, as narinas escorriam.

O cara, ao invés de lavar a bundinha no chuveiro, recorreu ao jornal diário em prol da limpeza anal. Defecará seu odor viciado infectando os que o acompanham.

Os caras ainda me são capazes de perguntar se eu não tenho o “Iggy” gravado”. Porra de caras! E ainda me recriminam: “É com ipslon!”.

Sentado à direita da mesa, o cara de camiseta preta contempla a estante abarrotada de livros (a privada estava semi-entupida, cheia de bitucas de cigarros). O vaso transbordou ao apertá-la. Minhas lágrimas escorreram conjuntamente. Vomitei e me lancei de cara vaso adentro. Sou louco, todos o sabem. Queria apenas cagar, não esperava que o vaso transbordasse. Mamãe não me passou isso. Sofri por tudo o que passei. Imaginem! Não sei cagar sem jornal! Minha bunda depende da notícia!

Já o outro, jogado numa cadeira de madeira, de braços entrelaçados, diz que nada tem a dizer. Está, com certeza, drogado!

Seus cabelos longos demonstram sua insensatez. Seu tênis sem meia indica sua maneira de se vestir, e o odor de seus pés nos desanima de viver. Sua camiseta estampa “The Doors”, mas seus ideais demonstram a podridão de seus dias. Seria um inseto ou um mamífero? Uma pulga, talvez. O riso escancarado espera o amanhã solitário, no quem sabe de uma vã ilusão idiota.

Enquanto isso, mais um busca o vaso sanitário, na ânsia em despejar excrementos.

Tosses, escarros... Formas singulares de expressão corpórea.

E assim os dias vão passando, com as nuvens carregadas se dissipando, e a lua brilhando melancólica no céu de dezembro. Papai Noel me abandonou quando contava apenas três anos de idade. Jogou em minha cara que não existia de verdade, que era apenas um sujeito qualquer fantasiado de velho gordo e feio! Naquele momento, minhas narinas sujas de criança soltaram um líquido vermelho e fúnebre. Chorei como nunca, e nunca mais quis olhar para um desses gordinhos que se vestem de vermelho no Natal.

Amanhã o verme irá trabalhar, acabado, e estará mal humorado como um velho broxa e surdo. Irá se arrepender, mas será tarde demais. O relógio marca 23hs:30min, e daqui meia hora a hora estará morta. O pêndulo irá parar, os morcegos voarão, e só se ouvirá batida de asas, uma vez que no pasto verde a vaca pasta, e amanhã será dia de colher cogumelos, para fazer um chá, e servir aos amigos. Será mesmo que “Alice” tomou algum chá alucinógeno?

Mais um dia se foi, mas ele, no entanto, vai sobrevivendo, remoendo seus sentimentos mais libertinos. Ele não é nenhum Jesus, mas carrega sua cruz...

Trancafiado em seu tugúrio estampado de recortes de jornal, embriagado, lamenta suas desgraças. Ilustrações o assombram. O som do ventilador, com suas engrenagens enferrujadas, arrebenta seus nervos!

Fritando na cama, de um lado para outro, as rugas brotam como repolhos em sua face; imperceptivelmente, o coração bate rapidamente, esguichando sangue às veias entupidas pelo uso contínuo de anestésicos para pessoas que sofrem de algum mal incurável, seja fisiológico psicológico. É UMA VÁLVULA DE ESCAPE! Imaginava que aquele louco de cabelos longos era um verdadeiro visionário; enquanto um outro cabeludo eliminava seus egos e, conversando, reconheciam que a trilha que seguiam levava a um lugar tranqüilo e libertador. Mas que no final de tudo nada daquilo era como de fato imaginavam. A porra da trilha levava, na verdade, ao inferno, ao inferno que estão agora vivendo. E, contudo, o miserável do cabeludo jaz sobre um amontoado de terra, com certeza carcomido por milhares de vermes imundos. Aliás, nunca vimos vermes limpinhos!

Entre idas e vindas ao vaso sanitário, a madrugada avançava sobre as carcaças putrefatas.

_O Assaf gosta mesmo é de baixaria! Quando tem a oportunidade de avacalhar com o sujeito, logo o faz. É um hipócrita. Grita de onde estiver em direção à sua vítima, para que todos percebam que aquele é um “deles”. “Ô cara, pode usar a salinha, se precisar! Não precisa se acanhar! É tudo limpeza por aqui!”.

Assaf miserável! Será que não percebe que prezávamos a discrição?

Soube, quando perambulávamos pelas ruas, que havia por aquelas redondezas umas putas viciadas que davam o rabo por apenas dois reais; unicamente para suprirem o vício.

Engraçados, esses seres humanos!

Cristiano Covas, 15.12.05

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 12/08/2010
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