VELÓRIO A DOMICÍLIO

Velório a domicílio

Esse fato aconteceu na década de sessenta.

Um moço, com mais ou menos 20 anos, veio de Santa Catarina para Curitiba, em busca de emprego. Após muito procurar, eis que uma padaria resolve apostar no jovem e o contrata.

Alguns meses mais tarde, vieram alguns vizinhos de sua cidade natal, trazendo um parente para tratamento no Hospital das Clínicas (prestador de serviços a pessoas carentes). Não era de se esperar, mas o doente acabou falecendo.

Não possuindo recursos, resolveram pedir ajuda ao dono da padaria. Como já havia certa familiaridade entre eles, expuseram-lhe o problema pelo qual passavam.

Como levar o falecido até aquela pequena e distante cidade catarinense?

O proprietário da panificadora resolveu ajudar a família. Encarregou seu filho, com carteira de habilitação recente, a utilizar sua perua e executar a tarefa. Essa viagem seria uma oportunidade de reforçar sua prática, serviria como vivência de estrada; além de poder levar os familiares do morto.

As estradas do trajeto eram péssimas, não existia asfalto e os buracos eram incontáveis.

A viagem corria monótona, até que os participantes pediram ao motorista para passar na casa de alguns parentes que moravam próximos de Joinville, a fim de se despedirem do falecido.

O rapaz atendeu ao pedido.

Chegando no endereço abriram o caixão, ajeitaram o defunto, os parentes choraram e despediram-se do morto. Fecharam novamente o caixão e continuaram a viagem.

Estando próximos de uma vilazinha fizeram novo pedido, pois ali morava uma tia do falecido. Abriu-se o caixão e repetiu-se o mesmo ritual de despedida. Fecharam o caixão e prosseguiram a viagem.

Passando pela próxima cidade, também moravam parentes. Novamente aconteceu a parada e a mesma cerimônia. Assim prosseguiu o velório até seu destino, a casa do falecido.

Colocaram o caixão sobre a mesa da sala. As senhoras ficaram rezando em torno dele. Os homens ficaram tomando cachaça e contando piadas na cozinha.

Ofereceram a cama do morto para o motorista descansar, pois teria que fazer a viagem de volta. Assim que se deitou sentiu muitas pulgas atacando; eram tantas que resolveu ir para a cozinha juntar-se aos piadeiros.

O motorista nunca mais esqueceu sua primeira vivência de estrada. Até hoje se diverte ao relatar aos amigos o inusitado velório a domicílio.

Iza Engel

Iza Engel
Enviado por Iza Engel em 12/08/2010
Reeditado em 21/07/2011
Código do texto: T2434476
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