CINQÜENTA VEZES TEU NOME

Uma rainha tirana me persegue há uma semana. A malvada e cruel soberana quer mesmo me ver em cana. Não posso sequer pensar em tirar uma pestana em minha choupana, pois a sacana quer me aprisionar por um simples pecadinho: comi escondido, sorvete de banana em sua tigela de porcelana americana.

A safardana também é louca por sorvete, por isso, quando descobriu minha falta, jurou me prender, torturar e deportar-me para Havana. Procurei suas amigas, Juliana, Susana e Joana, e implorei que convencessem a fulana que sou um cara bacana, mesmo morando em uma cabana, lá no morro Santana. Também pedi ajuda pra minha mana Tereza - que apesar de hoje ser mundana - foi sua amiga de infância. Infelizmente nada disso deu resultado. A taturana ficou com mais gana, quando descobriu quem era minha irmã.

Não sei mais o que faço. Pensei até em procurar uma cigana, mas logo desisti, pois pra consulta não tenho grana. Pensei também numa atitude mais insana: quem sabe fugir pro Rio e ir morar em Copacabana; mas isso seria uma saída meio profana. Decidi então, que tenho que resolver a situação limpamente, sem chicana. Tem que haver um jeito de conseguir o perdão da balzaquiana sem me violentar. Por um instante, pensei num disco do Claudio Fontana ou num livro com versos do Quintana. Bobagem!

O calor é infernal! Enquanto o jornal de ontem me abana, na outra mão o cigarro já virou bagana. A impressão que tenho, é de que a solução para o impasse está retida em alguma aduana. Parece até que estou em uma gincana, onde resta cumprir a última tarefa. A mais difícil, a quase impossível...

No auge do desespero, Izautina, minha empregada paraibana, me olha com compaixão, vai à cozinha e retorna com um cálice de tisana pra aliviar minha cabeça de uma dor quase espartana.

Será o meu fim? Chegou afinal minha pantana? Por Alá, nem uma mulher muçulmana sofre tanto! Saio de casa e sento num banco, na parte mais plana do pátio. Inquieto, ponho-me a pensar, observando as roupas molhadas na corda de roudana. Então, com um ar de Poliana na cara, tento ver um lado bom em toda essa tragédia.

Nisso, aparece minha vizinha de muro, uma baiana gorda, me acoselhando um banho de descarrego. É minha última esperança. Aceito! Mas de repente, no meio do ritual de desencosto, ouço os acordes de Carmina Burana, e... -Aleluia! -Osana! Era o caboclo Caninana Mangabarana baixando, se enfiando por dentro da negona e gritando: - mi zifio, corre pra savana e procura a tua amiga das mochila! Só ela pode ajudá suncê, pois de pecado de sorvete ninguém entende mais nesse mundo!

(Dedicado a Ana Maria - a amiga da mochila)

Pakisa Rasquinha
Enviado por Pakisa Rasquinha em 21/09/2006
Reeditado em 21/09/2006
Código do texto: T245394