O Cara Que Perdeu Os Dentes.

O susto grande deu-se logo pela manhã, quando do procedimento autômato de escovar os dentes. Não havia dentes!

Um desespero perturbador, ainda maior, mais comum numa situação dessas, se apossou daquele ser.

A princípio, numa atitude impensada, correu para a cama, na esperança de que ali contivesse a resposta, de que os dentes estivessem lá ou coisa e tal, de que estivessem em algum lugar perdidos nos sonhos de antanho..., que dormindo novamente acordaria com eles.

Empreitada infrutífera, não havia dentes lá também!

Logo, comportamento encravado no fundo das idéias de todo normal, manteve-se silente, na expectativa de que estivesse em vias de insanidade.

Não! Era real mesmo! Os dentes haviam caído de alguma forma da boca. Agora, também, não ia adiantar ficar correndo atrás de dentes perdidos por aí. O que tinha que realmente fazer era buscar a causa de tudo aquilo e recompor, com dentadura ou coisa parecida, aquele vão quer se formara na boca.

“Porra, logo eu, um cara tão jovem! O que foi que fiz de errado? A única saída é procurar um dentista.”

Mas, se eu nem sei a causa de tudo isso, e sequer estou em pesadelo ou delirando. Aguardarei calmamente este dia transpor. Quem sabe alguém não me avisa o que pode ter acontecido, em seguida procurarei auxílio profissional.

Percorreu o dia sem abrir a boca pra nada, alimentando-se somente de líquidos, o que causou estranheza aos outros freqüentadores da república, até que desabou na cama e dormiu, sonhando a noite toda com dentes assassinos que o perseguiam para castrá-lo.

Na manhã seguinte, gritos e desesperos... Não havia mais com que se preocupar...

Cristiano Covas, 15.10.2.004.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 25/08/2010
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