Falsinho e suas Ludibriações Sorridentes.

Sorria um sorrizinho “quase sincero”para todos que via, erguendo em seguida rapidamente o braço direito e abanando a mão com os dentes todos à mostra. À primeira vista era um purinho ser da sociedade, que queria um dia, quem sabe, se candidatar a vereador.

Este era Falsinho Sininho da Silva, seu nome de batismo. Vivia assoviando, dando sorrizinhos e cumprimentando todos que via pela frente. Fazia questão de cumprimentar até o cão do empregado do patrão, para mostrar que não era não um homem mal-agradecido.

Era “quase” vivido, com pouco mais de cinqüenta anos e metro e meio de altura, troncudinho e aparentemente o homem mais feliz do mundo.

Acordava cedinho para cumprimentar o padeiro, o pedreiro, o confeiteiro, o leiteiro, a faxineira, mas gostava mesmo de cumprimentar com efusão eram grandes escalões, como o prefeito, o padre, o delegado, juiz e promotor; esses ele parecia um cãozinho que não via o dono há muito tempo, e que quase quebra o rabo de tanto abanar. Fazia questão de dar a mão, de ficar o mais tempo possível com a boca escancarada e segurando a mão do figurão. Os mais humildes ele também fazia questão de cumprimentá-los, mas era com um aceno e um sorriso ameno, meio à distância.

Falsinho era figurinha tarimbada na cidade, não fumava, não bebia, não trepava, não saía da igreja, vendo a todos, sorrindo seu sorrizinho falsinho e fazendo pequenas confidências sobre a vida alheia. Você viu...? Ficou sabendo...? Preciso te confidenciar algo...? Meu amigo...!

E assim Falsinho caminhava, todo dia, bem cedinho, rindo seu sorrisinho e erguendo os braços para carros todos os cantos, todos os lados, todos que passavam, bicicletas, gentes das mais variadas, mesmo que nunca as tivessem visto na vida, cães, putas, advogados, delegados e até a cavalos Falsinho dava bom dia, por vezes sem o perceber.

E ia, quase que autômato, em seu modus sorridentes de cumprimentos e dentinhos podres à vista, sorrindo, sorrindo, cumprimentando, cumprimentando, indo à missa, todos os dias, e da vida alheia comentando, afastado pelo INSS, sua renda ia angariando; não trabalhava, não se recorde de um dia em que acordou cedo calado para o trabalho...

Falsinho era quase humano, era quase gente, era um experimentalismo do governo “comunista soviético”, deixado no Brasil na década de 60. Era constituído de um material emborrachado, resistente, sorridente, sorridente..., quase humano...

Savok Onaitsirk, 26.03.11

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 25/03/2011
Reeditado em 26/03/2011
Código do texto: T2869465
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