Vida Perdida - parte II.
Eram sete e pouco da manhã quando passou de carro em frente à igreja. Haviam muitos carros estacionados. Ele só queria buscar um cigarro e estava com o carro abarrotado de latas de cerveja.
Não queria nem saber de seu carro, das lombadas, da gostosa que o olhava do outro lado do ponto de ônibus, dos velhos que abriam a mercearia, não queria nem saber dele, nem de sua vida precária, muito menos da vida alheia.
O domingo estava fresco e ainda ouvia alguns galos cantando fora do horário. Havia uma leve garoa, indicando que o outono estava próximo...
Não queria saber também de outono, verão, putas em pontos de ônibus e galos velhos fingindo que ainda cantavam...
Varredoras de rua cuspiam criteriosamente suas funções, quase sonolentas, estudando os vestígios sagrados largados na madrugada de sábado.
Era cada coisa!
Mas e o que isso tinha a ver com ele?
Queria apenas ir ao posto de gasolina comprar cigarros, beber as treze latas de cerveja que estavam a seu lado, como únicas e últimas companheiras de estômago, e depois tocar fogo em tudo, inclusive em si...
Savok Onaitsirk, 10.04.11.