O PERFUME

O PERFUME

Sergio Pantoja Mendes

João Baguinho, segundo me foi contado, foi supervisor de manutenção elétrica, numa das indústrias nas quais trabalhei, além de ser um grande cara de pau. Pessoalmente, diziam, ele era um sujeito tão grande, quanto a sua cara de madeira; media em torno de 1,85m, pe

sando pra lá de 100Kg.

O chefe da manutenção nessa época, era um japonês muito chato e incompetente, na opinião daqueles que trabalharam com ele. Como, para variar, o japonês falava enrolado pacas, só chamava o gigantes-

co supervisor, de “Jon Baguin”. Este, além de cara de pau, era também o chamado “peidão”. Segundo seus companheiros, “era um peido, uma morte”; coisa digna de câmara de gas (talvez pior, pensavam outros). O mais triste, falavam todos, é que o “cheiroso”, sempre saía sorrateiro, silencioso, sutil, quase delicado... Numa segunda feira cheia de ressaca, estava João Baguinho quebrando a cabeça, fazendo o reparo de uma ponte rolante, cujos painéis elétricos ficavam dentro do compartimento conhecido como viga e próximos à porta de acesso, a aproximadamente, 20 metros de al-

tura. A porta, que era o único caminho de entrada e saída da viga, ficava totalmente obstruída pelas tampas abertas do painel elétrico e pela presença de alguém, trabalhando nele. Baguinho, já puto dentro das calças, resolveu que iria fazer uma sacanagem com o chefe; o japonês que o colocara naquela furada. Combinou com seus homens e mandou que um deles descesse para chamar o chefe, o que prontamente foi feito. O japonês chegou aborrecido e dando muita bronca, se meteu no cubículo, para tentar desatar o nó que o

próprio Baguinho, havia feito. Com a peãozada já fora da viga, o grandão postou-se à porta, de costas para o japonês e jogou um daqueles peidos mortais, quase na cara do pobre japones, que se abaixara na frente do painel. Segundo ele próprio, mais tarde, o maldoso chegou assoviando baixo e, o que é pior, trazendo mais alguns com ele... No instante seguinte, o japonês, já quase mor

to e tentando sair de dentro da viga, pos-se a sacudir as mãos e a balbuciar no seu enrolado portugues: -Hummm Jon!... Muito mal Jon!... Muito mal, né?... Huummm!... Jon!... E João Baguinho, com seu corpanzil na frente e a cara mais inocente do mundo, impedia a saída do chefe e perguntava: -Que foi chefe?... Tá passando mal?... Deu curto circuito?... E o coitado do japonês, apenas repetia: -Non Jon!... Muito mal, né?... Non fazer isso non Jon!... Coisa muito ruim né?... Hummmm Jon!... Muito mal... Muito mal... Tá podre Jon, tá podre!... Muito né?...

Dizem os antigos, que nunca, uma segunda-feira, passou tão rápido...

Sergio Pantoja
Enviado por Sergio Pantoja em 15/05/2011
Código do texto: T2972269
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