Pedroca de Volta ao “Cu do Mundo”.

Após seis anos, Pedro Toledo, o Pedroca, perdeu a compostura. Sentou no prostíbulo “Cu do Mundo” é pediu uma dose de domecq. Há muito não bebia domecq. Se lembra de quando caia nos vagões de metrô após doses e doses de domecq.

Sempre que bebia domecq lhe dava ânsia de devorar uma boa puta lasciva. Para ele as putas eram as melhores mulheres da sociedade, trabalhavam com alto profissionalismo e ética, e nem deveriam ser chamadas de putas, mas sim de damas da noite.

Nas primeiras duas doses Pedroca começou a se agitar, levantando-se da banqueta próxima ao balcão e ficando a espreitar algumas putas que dançavam numa espécie de palco. Olhava como aquele coyote do desenho animado, babando, com faca e garfo nas mãos; no caso de Pedroca um copo e Domecq e um cigarro Campeão, sem filtro.

As putas em princípio não costumavam dar muita atenção a Pedroca, que, além de feio pra caralho, baixo, calvo, gordo, a face destruída pelas espinhas da adolescência, fedia e mal vestia e ainda por cima tinha um chulé desgraçado e vivia com pouca grana. Pedroca, em princípio, como dito, à primeira vista, nem de longe fazia parte dos esteriótipos preferidos das putas. Ficavam quase que meio à espreita, prontas para a saída lateral, motivo o qual na maioria das vezes restava mesmo para Pedroca apenas as desprezadas, as equiparadas a ele, putas em fim de carreira, em último estágio de aprovação, dali ou se aposentavam ou iam pra Liberdade, o Bairro.

Mas Pedroca tinha um plus que fazia com que a puta que com ele se dispusesse a ir, mesmo que a contragosto, no fim não se arrependeria: Pedroca ouvia o que a puta tinha a dizer, a desabafar, a sua vida muita das vezes surrada, suja, seus filhos cuja guarda quase sempre perdem na Justiça, difamações, injúrias, espancamentos, o rufião que quer sempre a maior parte da grana, o risco de doenças, bêbados, drogados, os piores tipos de homens, fétidos, podres, camioneiros de muitos quilômetros rodados, semanas sem banho, a tudo tinha que aguentar, principalmente aquela que chega em fim de carreira. E toda puta que com Pedroca passava saia uma outra mulherer, revigorada, audaz, mente positiva, e quase sempre, posteriormente, largavam a “vida” e buscavam trabalho e família. Pedroca, apesar de seu ar pernicioso, tinha também psicológia, compaixão e empatia únicas, mas não abria mão de uma boa trepada...

Savok Onaitsirk, 03.05.11.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 03/06/2011
Reeditado em 05/06/2011
Código do texto: T3012169
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