A MULA SEM CABEÇA AMANDO

A M U L A – S E M – C A B E Ç A A M A N D O

SUSSUARANA era filha de um casal muito religioso, daqueles que pensavam que a filha era santa, e que permanecia virgem aos trinta e tantos anos. Para eles, sexo era pecado e só depois do casamento seria permitido, e com ressalvas. Nada de cachorrinho, cavalinho, galo/galinha, 69 e muito menos 96, quando muito um boquete.

Ela não era nem bonita nem feia. Ou melhor, poderia ser considerada bonita num dia e feia no outro, o que dependia muito do ângulo pelo qual que fosse vista. SUSSUARANA, porém, sabia olhar para os homens e ver somente o lado bonito deles, lá para ela.

SUSSUARANA passou a adolescência sem namorar. Não que fosse feia, muito pelo contrário, (não que fosse bela), mas era exigente e não encontrava um rapaz que atendesse às suas expectativas, que não eram poucas. Um dos seus primeiros namorados era magro demais. Não gostava de sol nem de chuva. Um dos segundos era obeso mórbido, adorava chuva, mas não sorria; um dos terceiros era anão...

Além de seletiva era também uma mulher muito libertina. Também poderia ser considera uma garota bem apessoada, divertida, cheia de badulaques, pearcings e tatuagens. Metida a conquistadora. Bem, o melhor adjetivo para ela seria “banca de camelô de bijuterias”.

O tempo passava sem que nada mudasse na vida de SUSSUARANA, e, a cada dia tornava-se mais triste e solitária. Certa tarde, porém, o vento mudou para sempre os rumos da jovem taciturna. Outra mulher entrou na sua vida. Uma loira, não tão bonita, pouco namoradeira, mas de boa pessoa. Dessa vez ela encontraria o caminho para o mundo da fantasia; contado em todas as histórias lesbianas.

SUSSUARANA andava muito estranha ultimamente. Fazia tempo que não mandava nenhum telegrama desesperado, lamentando o fim de mais um romance impossível e arrebatador, importunando a vida das amigas em busca de consolo rápido. Ela sempre foi passional. Seus amores nunca passavam de quarenta e cinco segundos.

SUSSUARANA trabalhava na mesma agência há mais de oito anos. Era aquela funcionária exemplar, de quem ninguém se queixava, e era adorada por todos sem nenhuma exceção, pelo menos que se soubesse. Em compensação sua vida era um segredo. Nunca saíra com o chefe nem com o faxineiro, e deu... ah, como deu, no que deu...

Perdeu a cabeça por causa daquele amor.

SUSSUARANA:

- Não consigo entender, te amo tanto. Como você pôde me deixar assim, sem mais nem menos. Sem nenhuma explicação, nem ao menos um bilhete! Meu coração morre um pouco a cada dia que chego e encontro a casa vazia.

Perguntem aos mais velhos, aos mais experientes e aos superiores, mas ninguém possuirá uma explicação para o fato.

Apesar de todos saberem da existência da mula sem cabeça.

(dezembro/1989)

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 10/06/2011
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