A Maçaneta

O escritório era perto da praia. Sávio era o primeiro a chegar. Vinha de ônibus. Quando chegava, ia logo ao banheiro masculino, dois vasos e dois mictórios. Ficava lá um bom tempo. Ao sair seus colegas já estavam em suas mesas. Um dia Mauro, que chegara mais cedo, pode perceber o porquê daquela demora. Sávio entrara no banheiro pouco depois dele.

- E aí, Sávio. Tudo jóia?

- Tudo, Sávio falava pouco.

Após levantar-se do vaso, Mauro notou que Sávio lavava cuidadosamente as mãos. O diálogo fora só a pergunta e a resposta. Sávio, sem a menor pressa, continuava passando uma das mãos sobre a outra. Parecia deliciar-se com o deslizar da espuma.

Face às peculiaridades de sua conduta – falar pouco ou quase nada, encontrar-se no banheiro no início do expediente, quando todos já estavam em suas mesas, e outras esquisitices –, Sávio era objeto de certa incredulidade. Sendo creditado nessa conta o que fora testemunhado por Mauro. Assim, toda vez que Sávio, ao longo do dia, levantava-se para ir ao banheiro, iria demorar muito tempo. Lavando cuidadosamente suas mãos.

Um dia Mauro e os demais colegas decidiram, ao final do expediente, untar a maçaneta do banheiro de graxa. E ficaram esperando pela reação de Sávio. Como todos, ele se servia do banheiro antes de sair.

Quando viu a maçaneta suja, Sávio disfarçou e retornou à sua mesa. Seus colegas trabalhavam normalmente. Papel higiênico nem pensar porque o papel encontrava-se dentro do banheiro. Usar uma folha de A4 também não daria certo. Poderiam rir dele. E aumentava a vontade de urinar, seguindo-se da que seria normal, lavar as mãos.

Como se tivessem combinado, ninguém foi embora na hora naquele dia. O expediente, que normalmente terminava às 18h, prolongou-se até perto de 22h. Quando Sávio jogou a toalha e saiu finalmente sem ter usado o banheiro.

Pouco depois de ter saído, Mauro e mais dois colegas seguiram-no. Iam rindo o tempo todo, procurando manter uma distância segura. Observaram que Sávio distanciava-se cada vez mais. Surpreenderam-se quando o viram atravessar a rua em direção à orla. O ponto de ônibus ficava do lado em que estavam. Atravessaram também e riram-se mais ainda quando Sávio começou a correr, já na areia da praia, para finalmente jogar-se com roupa e tudo no mar.

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 07/08/2011
Código do texto: T3144831
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