FRONTEIRA DO SILÊNCIO
 
                                     Capítulo VIII
 
       Acordei subitamente ao sentir um movimento brusco na bóia. Após dias tentando desesperadamente sobreviver naquele limitado pedaço de salvação construído com ferro que aquecia insuportavelmente durante o dia causando-me imenso mal estar. Eu nem podia me mexer tamanha era a minha fraqueza devido a minha inanição e exposição às intempéries. O mar estava calmo e eu não entendia a princípio o motivo daquele movimento que me despertou do torpor em que me encontrava motivado pela fraqueza extrema.
 
    Olhei para todos os lados na esperança de após aquele despertar avistar alguma chance de salvação. Em dado momento percebi a certa distância uma mancha escurecida que se deslocava sob a água. Temi o pior. Logo vi o motivo do meu temor: uma grande barbatana dorsal aflorou à superfície deslocando-se em minha direção. Segundos após pude ter idéia da imensidão daquele animal. Era um grande tubarão medindo cerca de dois a três metros. Ao se aproximar da bóia começou a circular em volta como se aguardasse o momento para atacar. Vez por outra eu percebia seu olhar frio na minha direção. Parecia entender a minha limitação e que eu não tinha saída. Certamente me via como um potencial alimento.
 
    As horas foram passando e ele não ia embora. Afastava-se um pouco mas sempre retornava. De vez em quando passava tão perto que seu deslocamento na água balançava a bóia. Agora eu entendia aquele movimento brusco que me despertou.  Quando ele se afastava e sumia eu olhava para todos os lados desesperadamente esperando o pior. Fez-se um silêncio profundo! Eu me apegava em preces e nas lembranças imaginando que seriam meus momentos derradeiros. Seria esse meu fim? Aquela bóia parecia um brinquedo para aquele tubarão. E eu estava nela! Ela era a minha única segurança. Pensei que ele não havia atacado ainda simplesmente por não estar com fome e ficava por perto como se estivesse guardando a sua próxima refeição. Desesperado e em pânico pensei em me atirar na água e tentar nadar para longe daquele terrível animal.
 
    É interessante que apesar da minha situação adversa eu ainda me apegava ao pouco de vida que ainda tinha e pensava em salvação. Porque será que o ser humano se apega tanto a vida física? Fraco e quase sem voz eu murmurava tentando gritar: Deus! Por que isso? Por que tem que ser assim? De repente a bóia foi atingida violentamente pelo tubarão. Ele resolveu atacar. A impressão foi que ele atingia a bóia para que eu caísse na água e aí poderia me pegar. Sucessivos ataques aconteceram e eu com as poucas forças que me restavam, segurei nos suportes da bóia para não cair na água. Foram horas intermináveis e o tubarão sempre por perto, vez por outra desferindo ataques à bóia. Eu chorava e rezava. Pedia ajuda a Deus. Mas nada acontecia. Mãe! Minha mãe! Deus me abandonou! Vem ficar comigo. Vem me proteger, minha mãe. Estou sozinho, com fome e entregue à sorte. Olha como está seu filho! Repentinamente senti uma brisa suave e uma paz imensa: Inexplicavelmente percebi a presença da minha mãe que me tomou ao colo sem nada falar. Sentindo-me envolvido pela minha mãezinha que me protegia como uma mãe que defende a cria do ataque de predadores, encontrei energia para esperar por socorro.
 
     Após longas e intermináveis horas finalmente o tubarão resolveu partir, afastando-se de vez das proximidades da bóia. A noite já havia chegado e eu me aconcheguei no colo da minha mãe e recebendo a candura dos seus carinhos suspirei e adormeci.

 
 
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Cônsul POETAS DELMUNDO – Niterói – RJ
Valdir Barreto Ramos
Enviado por Valdir Barreto Ramos em 15/08/2011
Reeditado em 16/08/2011
Código do texto: T3161895
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