FRONTEIRA DO SILÊNCIO
 
                                      Capítulo IX
 
       Não tardava o amanhecer. A traineira navegava lentamente no espelho d’água e os homens observavam atentamente em busca de vestígios de cardumes.  Pescadores experientes, distinguiam pelo movimento na superfície e pela coloração da água se havia grande concentração de peixes. Não obstante a situação perigosa em que se encontrava o litoral brasileiro, com sucessivos ataques de submarinos alemães a navios mercantes e outras embarcações, os pescadores ignoravam o risco e partiam mar adentro. Dias e dias no mar em busca de pescado para prover as necessidades das famílias tornavam aqueles homens obstinados e determinados e da união do grupo dependia o sucesso da missão. Em terra seus familiares aguardavam ansiosos pela volta dos entes queridos, que se aventuravam no mar na incerteza de conseguir o sustento.
 
     Noel pilotava o Valente manobrando na cabine apertada o pequeno timão enquanto fumava um cachimbo e bebia um café que o deixava acordado no seu turno. O barco deslocava-se aleatoriamente na esperança de acertar a sorte grande: Deparar com um grande cardume para realizar uma boa pescaria. Enquanto pilotava pensava na mulher e nos filhos e a cada lembrança um discreto sorriso se esboçava no rosto queimado pelo sol e cheio de rugas ocasionadas pelos anos de vida no mar. Manobrava pacientemente a embarcação e fumava o cachimbo imaginando o que poderia fazer para proporcionar uma vida melhor para a família. De repente foi tirado de súbito dos seus pensamentos ao ouvir um grito de um dos tripulantes que da proa observavam o horizonte com um binóculo: Ali! Em frente! Adiante a uma milha, a bombordo! Vejo qualquer coisa! Apressando-se em mudar o curso Noel passou a perscrutar o horizonte para tentar definir o que era. Lentamente o barco foi diminuindo a distância até aproximar-se o bastante para descobrirem do que se tratava.  Com a aproximação e o clarear do dia constataram ser uma bóia de sinalização daquelas que servem para orientar os navegantes quanto à presença de pedras ou algum perigo à navegação.
 
    Vejam! Tem alguém lá! Tem alguém na bóia! Rapidamente Noel aproou a embarcação, lá chegando em alguns minutos.
 
    - Olá! Responda! O tripulante na proa gritava na esperança de obter uma resposta da pessoa deitada na bóia. Porém não percebia nenhum sinal de vida. Ao chegarem rapidamente amarraram o cabo em uma das hastes de ferro e Marcelo, o rapaz que vigiava na proa, pulou do barco para a bóia, apressando-se a verificar o estado do náufrago. 
 
    - É um homem e parece morto. Não! Esperem! Ainda respira. Com dificuldades mais respira. Ajudado pelos companheiros resgataram o corpo imóvel e o levaram para bordo do Valente.
 
    Apesar de inconsciente deram água ao pobre homem que engolia com dificuldade. Noel determinou que Ivan cuidasse do homem enquanto rapidamente se afastavam da bóia partindo em busca dos cardumes.
 
    O Valente, uma pequena traineira que apesar do tamanho e das limitações, desenvolvia com certa facilidade a navegação. A guarnição era composta por Noel, um dos donos, comandante e responsável pela comunicação e pela navegação, Gilmar, sócio de Noel, mecânico do barco e o segundo homem na hierarquia, a quem cabia revezar com Noel na pilotagem, e por mais três marinheiros, sendo o Ivan, filho de Gilmar, o responsável pela acomodação dos peixes pescados no pequeno porão e nas horas livres, o cozinheiro de bordo. Os outros dois eram o Flávio e o Henrique, filhos de Noel, responsáveis pela organização do barco e pelos apetrechos de pesca. Menos de três horas após o resgate, avistaram um grande cardume e apressaram-se a realizar a pesca.

   Gilmar comentava com Noel: Ta vendo, amigo? Deus não desampara ninguém. Socorremos aquela pobre alma e o Pai nos presenteou com esse imenso cardume. Vamos fazer a festa, com a bênção do Senhor!  

 
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Cônsul POETAS DELMUNDO – Niterói – RJ
Valdir Barreto Ramos
Enviado por Valdir Barreto Ramos em 29/08/2011
Reeditado em 29/08/2011
Código do texto: T3189420
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