A gargalhada

Poucos sabem que a vida na terra pode acabar a qualquer momento. Tudo depende de uma série de eventos astronômicos de grandes proporções que ocorrem vez ou outra no universo. Esses eventos acontecem numa parcela de tempo absurdamente grande, algo inimaginável para o ser humano.

Era segunda feira, o pior dia da semana em minha opinião, eu voltava de ônibus da universidade depois de um longo e cansativo dia de trabalho e estudo. Era quase onze da noite e faltava pouco para que finalmente eu estivesse em casa. Naquela altura havia poucos passageiros no ônibus, todos pareciam exaustos e com pouco humor. De repente nossa atenção foi direcionada para uma mulher gorda que estava sentada bem na minha frente. Até então ela sorria baixinho, mas agora deixava escapar sem nenhum pudor uma sonora gargalhada.

— Hahahahahahahahahaha!!!!!

Achei fantástica aquela gargalhada. Era de uma espontaneidade incomum, coisa rara de se ver num adulto. Todos no ônibus olhavam para a mulher, mas ela parecia não se incomodar e continuava a gargalhar feito criança.

— Hahahahahahahahaha!!!!!

Ta aí uma pessoa de bem com a vida, pensei. Por um momento comecei a me sentir melhor do que quando entrei no ônibus. Gostaria de dar um abraço e um caloroso beijo em minha namorada, mas infelizmente não iria ter tempo pra isso, raramente conseguimos nos ver durante a semana.

— Hahahahahahahahaha!!!! — A mulher continuava a gargalhar.

Os passageiros pareciam incomodados, eles olhavam para a mulher com uma expressão de repúdio, inclusive o cobrador.

— Veja o rosto dela! — Alguém cochichou — Ela é deficiente mental, por isso está rindo sem nenhum motivo.

A mulher aparentava não ter ouvido o comentário, ou talvez não desse importância, e continuava a gargalhar agora ainda mais alto.

— Hahahahahahahahahaha!!!

— Já chega! — Um homem gritou ao levantar-se do assento. — Minha senhora, você pode calar a porra dessa boca?!!!

— Hahahahahahahaha!!!

— Olha aqui sua retardada! Não há nenhum motivo pra você está gargalhando desse jeito. Só estamos voltando para a porra de nossas casas depois de um dia fodido de trabalho!

— Haaahahahahahahahahaha!!!!

— Desisto. Isso não faz sentido. — Tornou a sentar visivelmente irritado.

Nada faz sentido no universo, nós simplesmente estamos aqui, pensei.

Uma vez li em algum lugar sobre um fenômeno que ocorre no espaço a cada 100 milhões de anos, a colisão entre duas estrelas. No choque, é liberada radiação gama em intensidade suficiente para acabar com a vida em um planeta localizado a cerca de uns 30 anos luz do acontecimento.

A mulher parecia estar cagando para esse evento astronômico, ela simplesmente gargalhava.

— Hahahahahahahahahahahha!!!

De repente, num segundo, houve um intenso clarão, não era possível enxergar absolutamente nada, no outro segundo a camada de ozônio já não existia mais. Logo, logo, a vida na terra também deixaria de existir.

— Hahahahahahahahahhahahaha!!! — A mulher ainda gargalhava.

M.Ravel

http://mauroravel.wordpress.com/

Maurício Ravel
Enviado por Maurício Ravel em 26/10/2011
Reeditado em 26/10/2011
Código do texto: T3299917
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