Suicídio Social

Nossa vida é dividida em 3 partes: nós nascemos, vivemos e morremos. Simples assim.

A grande maioria das pessoas tenta aproveitarem ao máximo o que a vida lhes oferece. Elas querem se livrar da solidão, ser felizes. Mas algumas exceções querem só chegar a última parte e atravessar o véu da morte. Eu entro no grupo das exceções.

Você deve me achar louco. Confesso, eu o sou. Se você, como eu, tiver uma vida tão horrível e solitária quanto a minha, me entenderá. Mas não é por isso que quero morrer. Quero provar uma coisa a mim mesmo.

Além de eu ter problemas sérios de depressão, ainda tenho uma família indiferente. Já fiz de tudo para lhes chamar a atenção. Sofri diversos acidentes, fiquei até em coma. Nada! Minha auto-estima está nos níveis mais baixos.

Por esses motivos, vou me matar. Mas, principalmente, para chamar a atenção dos meus parentes. É isso que eu quero provar. Que pelo menos na minha morte eles se importam comigo.

Sei que parece loucura. EU SEI. Porém, não ligo mais para nada. Só quero morrer. Cansei de lutar e só me ferrar. Cansei.

Já comprei uma arma. Sempre achei poético morrer com uma bala enfiada na cabeça. Para mim, cortar os pulsos parece desespero. Também escrevi uma carta, ressaltando o motivo do meu suicídio em tópicos explicativos. Sou muito organizado.

Pego a arma, que até este momento estava na cômoda. Minhas mãos tremem enquanto a coloco na têmpora. A consciência da morte me atinge, mas não sinto medo, só uma calma absurda.

Então, aperto o gatilho, e tudo fica escuro.

***

Desperto. Por um momento, penso que não morri, mas olho pro meu corpo e ele está translúcido, quase desaparecendo. Então percebo que estou num velório. Não, no meu velório.

Há muitas pessoas. Não uma multidão. Só que tinha mais gente do eu esperava. Chego perto das pessoas mais íntimas. Nenhuma delas chora, entretanto, uma felicidade mórbida me invade, porque elas estão aqui. Isso quer dizer que se importam, sim.

Sinto que estou sumindo. A última coisa que escuto da boca da minha família chega a mim como um murmúrio: ”Droga! Esse caixão custou uma fortuna...”

Não dá tempo de pensar em nada, e eu desapareço com uma lufada do vento.

Elaine Rocha
Enviado por Elaine Rocha em 02/11/2011
Reeditado em 30/06/2012
Código do texto: T3313124
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