Palavras

Vida de escritor não é fácil. As palavras nem sempre estão dispostas a compartilhar os bons e necessários sentimentos. Uma relação de amor e ódio é travada quase que constantemente. Mas, o amor sempre prevalece, no meu sangue corre a voracidade de colocar no papel, palavras ordinárias, palavras inefáveis.

Minha mente se confunde numa batalha interminável. Meu cérebro oscila, ferve. Uma caneta na mão e, meu punho se fricciona contra uma folha de papel em branco.

Não escrevo nada, as palavras resolveram me dizer adeus. Nenhum personagem me acossa, nenhuma história se projeta diante dos meus olhos afadigados. Um músico não vive sem as notas musicais e o escritor não respira, não sorri, não chora sem as palavras.

Faço alguns traços no papel. Escrevo então: palavras. O tempo se rompe ao meu redor. Tudo que consegui escrever foi exatamente e apenas isso: palavras.

Deus, eu preciso entregar meu texto em poucos dias...palavras , tudo que minha mão insiste em escrever . Não entendo.

Num ato de desespero jogo a caneta contra à parede . Sugiro frases pífias,contos sem alma, poemas sem poesia.

A frustração me visita, não posso aceitar a derrota. Não posso! Rasgo a folha ao meio, depois de alguns minutos, eu a tenho novamente em minhas mãos.Estranho, a folha seca torna-se úmida, a única palavra que escrevi está borrada. A caneta esquecida no canto pula em direção ao meu peito.Atônito eu a pego no ar.

Meu espírito está em júbilo... Algo acontece e não há explicação certa, sensata. Novamente, olho para a folha, sua umidade é extinguida na medida que faço riscos sobre a mesma. As letras do alfabeto em chamas se espalham nas paredes mofentas de minha casa. Elas correm em várias direções, embaralham-se e formam uma frase.

Escritor, escreva!

Sigo as orientações, as palavras são soberanas para mim. Estupefato, caminho pelo quintal amassando algumas folhas que cobrem a terra molhada.

A gigante mangueira com seus longos galhos projetam uma sombra que me refrigera.No céu, nuvens de várias formas flutuam serenas no ar.

A calmaria me pertence, fecho os olhos para ouvir o silêncio que é música viva em minha alma. A imaginação voa, vejo rostos, imagens e o próprio tempo.Um minuto desperdiçado é o começo da morte humana. Posso perder qualquer coisa, até mesmo a respiração que me faz sentir vivo, porém jamais penso em deixar para trás a liberdade de escrever aquilo que meu coração deseja.

O encontro com as palavras. Momento no qual os anjos do céu cantam em coro celestial. A modelagem de cada letra derramada em uma folha qualquer, verdades e mentiras, anseios e desilusões do meu viver ocupam as lacunas ardentes do meu coração.

Poder

Audácia

Liberdade

Angústia

Vida

Redenção

Alma

Salvação

A noite abraça a cidade .O céu negro se apresenta, vários pedaços de nuvens arroxeadas dançam ligeiramente na casa de Deus.

No quintal ao lado, meu vizinho arranha as cordas do seu violão espalhando no ar uma triste melodia. É fim de tarde, os mortais se esconderão nos quartos, apagarão as luzes e deixarão sobre a mesa o prato sujo do jantar. Os libertinos não são assim.Eles ficarão prostrados observando a sutileza da vida.A vida é efêmera degustar um momento tétrico ou glorioso produz experiência, coragem.

Meu texto está pronto, leio a última linha , algo me perturba. Na parede, mais um aviso das letras em chamas.

Olhe para o céu!

Feliz, vejo uma estrela rutilando solitária. É Estrela solitária fazendo morada em meu ser.

Mayanna Davila Velame
Enviado por Mayanna Davila Velame em 06/01/2007
Código do texto: T338779
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