Maldição...

Fechando os olhos sempre via aquela feiticeira falando em versos estranhos proferindo uma maldição, talvez se eu não fosse tão cética tivesse tentado de alguma forma anular aquelas palavras, eu teria buscado até no inferno um meio, mas agora, aqui nesta cama, tentando mais uma vez, eu confirmo, todo o meu desejo se foi, não há homem que me faça sentir fogo queimando...

Tudo tinha acontecido quando eu tinha 20 anos, tinha conhecido um homem maravilhoso, saímos algumas vezes, eu estava muito apaixonada, pena que fui descobrir tão tarde que ele era casado. Não consegui me afastar, ele também sempre me procurava, aquele homem, desgraça de minha vida, sempre me enlouquecendo de desejo e paixão, nada parecia importar ao lado dele. Quando sua esposa, uma mulher linda e misteriosa, descobriu aquele caso, foi até o lugar onde nos encontrávamos e me lançou aquela maldição que falava coisas como: “Apagando o fogo da alma, o desejo que inflama” e algo sobre “pequenas fagulhas no dia dos mortos”, eu estava assustada demais, mal prestei atenção. Mas o marido dela, depois de ouvir aquilo voltou com ela para casa e nunca mais me procurou. Três anos depois estou aqui, numa cama, depois de ver um homem se acabar em cima de mim, estando totalmente inerte, sem ter sentido nada, isto é um pesadelo, o pior pesadelo, não sei o que fazer, acho que vou me matar, pois não há remédio que me cure...

...

Hoje é Halloween, estou caminhando por uma rua escura, me sinto estranha, como nos últimos dois últimos anos neste dia, como se de repente algo me enchesse outra vez, mas sempre acabo bêbada adormecida em algum canto, tentando me esquecer desta minha situação. Espero ser atropelada, é melhor do que dar um tiro na cabeça...

Acabo entrando em um bar, nunca estive aqui antes, na verdade nem me lembro de já ter visto este lugar, pessoas estranhas, pálidas, carrancudas, me causam arrepios. Enquanto peço que ao atendente uma dose de vodca sinto que alguém me espreita, viro a cabeça, é um homem, cuja idade não dá pra definir, que me fita absorto como se refletisse, seria eu o ponto em que se fixou sem notar ou realmente me olhava?

Quando ele se levantou e sentou perto de mim, senti um arrepio na nuca, ele pegou minha mão direita e apontou para um pequeno ponto central, que particularmente eu nunca tinha notado:

-Você foi amaldiçoada...

Fiquei olhando para ele, não importava quem era ele, como sabia daquilo, contanto que pudesse me ajudar.

-Como posso quebrar a maldição?

Ainda segurando minha mão se levantou, pôs uma nota alta sobre o balcão e foi me conduzindo para fora, a rua que estava movimentada, talvez por causa das festas que acontecem neste dia, se tornava insignificante em relação ao frio gélido daquela mão que me segurava com uma firmeza paternal.

Andamos por cerca de cinco quarteirões, ficando já fatigada comecei a diminuir o passo:

-São 11 horas minha cara, apresse-se pois senão esta maldição só poderá ser quebrada daqui um ano, ou talvez daqui treze.-fiquei atônita olhando pra ele.

-Vê esta marca em sua mão? Então, se ela está visível quer dizer que a maldição poderá ser quebrada, não posso garantir que daqui um ano estará aí, e se não estiver só depois de treze anos. –ele ficou serio- eu posso te ajudar, mas terá que fazer tudo o que eu mandar, certo?

-Sim, faço qualquer coisa!

Comecei então a andar mais depressa, quando ele parou estávamos diante de um cemitério, sendo aquela data tão especial, tão cercada de mistérios, eu dei apenas um sorriso sarcástico, talvez diante de minha situação só mesmo um sorriso...

Parando diante de um tumulo disse:

-Sente-se aí, eu volto já.

Falando isso desapareceu no meio da escuridão do cemitério, acendi meu isqueiro, sentada naquela morada eterna, tentei olhar ao redor, mas não puder ver muita coisa. Comecei a entrar numa espécie de transe, pois as imagens ficaram embaçadas, a ultima coisa de que me lembro é de ser aparada por ele antes de perder totalmente a consciência.

Quando acordei estava no meio de um ritual, diversas pessoas a meu redor, eu estava nua, enquanto varias pessoas com capas longas de capuz repetiam palavras inteligíveis de cabeça baixa. A luz das diversas velas que formavam um circulo iluminavam meu corpo, comecei de repente a sentir um desejo incontrolável me inundando, cada vez que aquelas palavras eram repetidas eu sentia com mais intensidade. Quando me vi úmida, latejante e desesperada eu vi vindo em minha direção, usava uma túnica clara, apagou a vela do circulo, apagou o desenho em giz do chão e entrou, refazendo o desenho e acendendo a vela com a ajuda de uma negra que trazia na mão. Quando ele disse uma única palavra e todas as vozes se calaram eu soube, ele era um sacerdote. Quando suas mãos tocaram meu corpo não eram mais frias como antes, quando me possuiu com uma volúpia quase animal enquanto repetia uma frase curta eu sentia que algo muito pesado saia de meus ombros. Antes porem de alcançar o apse ele me entregou um pequeno papel e disse:

-Repita isso treze vezes o mais rápido que puder.

Enquanto eu repetia rapidamente já começa a sentir o gozo tomar conta de mim, eu senti algo tão forte, tão intenso que tremia convulsivamente, mas aquilo na foi comum, pois foi se estendendo de tal modo que eu mal consegui repetir as palavras, logo me vi dizendo frases em uma língua que eu não conhecia, e louca eu gritava aos céus como um animal. Cai desfalecida depois de alguns instantes.

Hoje deve ser dia 1° de novembro, não posso afirmar, é como se eu tivesse dormido por tempo demais, olho para o céu, tudo parece tão mais lindo!

Enquanto eu ia em direção ao trabalho tive a estranha sensação de estar sendo olhada por todos os homens, nunca tinha acontecido algo assim, quando vi minha imagem refletida numa vitrine descobri, eu não era mais a mesma mulher, agora eu era mais que isso, não conhecia aquele brilho nos meus olhos, talvez não só o desejo tivesse voltado para mim, mas eu também tivesse sido enchida de um fantástico poder que eu desconhecia: o da sedução... Eu não era só uma mulher, eu era Vênus, Lilith, eu era a lascívia em pessoa....

T Sophie
Enviado por T Sophie em 11/01/2007
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