TONINHO DA BOLA

TONINHO DA BOLA

O relógio desperta e ele pega no sono de novo. Por três vezes sua mãe o chama porque já está quase na hora do futebol. Na terceira vez Toninho levanta, toma café e vai se aprontar. Os apetrechos para o jogo já havia arrumado. Na noite anterior havia dormido pouco, porque estava numa festa na sede da escolinha de futebol. Era sua vida. Local que se sentia bem. Desde pequeno treinava três vezes por semana. Além do sonho de jogador, queria fazer uma faculdade de Educação Física, e quem sabe mais tarde seria um treinador. Isso as pessoas duvidavam. Não acreditavam nele. Caçoavam...

O campeonato começou e o rapaz se destacou. Guri dedicado em tudo o que fazia. O sonho de ser famoso estava acima de qualquer obstáculo. A falta de recursos da família era apenas um dos problemas. Mas o menino esperto e esforçado, nas horas vagas vendia salgados que sua mãe fazia. O pai Joaquim Pedro era funcionário de uma fábrica e mal ganhava o sustento da família. Com o dinheiro das vendas que Toninho recebia, dava pra pagar a mensalidade da escola de futebol, ajudar em casa e até em alguns eventos da instituição.

Numa feita houve um jogo com os funcionários de uma empresa de jornalismo e rádio. O piá se preocupava consigo e seus companheiros. No time da escola ganhou o bracelete de capitão. Era muito responsável. Brincava com todos, dava risadas, contava piadas... Quando precisava chamar a atenção, dar broncas com os jogadores, fazia com autoridade.

Naquela tarde de domingo houve uma grande torcida. Muitas gurias foram ao campo pra ver aqueles que elas conheciam apenas a voz: Os profissionais da comunicação. Com alguns locutores de rádio ficaram decepcionadas ao vê-los pessoalmente. Fisicamente não eram mais feios por falta de espaço, diziam elas.

O time dos radialistas tinha fama de nunca ou quase nunca perder. Mas isso não assustava o piazote. No vestiário chamou seus colegas e disse para pensarem positivo, concentrarem-se no jogo e... o resultado seria ótimo. Assim fariam um bom trabalho.

Foi um jogo difícil no começo. O adversário marcou o primeiro gol, aos dez minutos. Aos vinte e um, o segundo. Dona Durvalina estava quase dando um piripaque. A mãe coruja se saísse mais um... teria morrido. Terminou o primeiro tempo perdendo de dois a zero. Olhavam pra torcida... para as pessoas que meneavam a cabeça em sinal de desaprovação e desespero. Menos a mãe, dona Dorva e Sr Joaquim, o pai, que gritavam palavras de incentivo dizendo que iam virar o jogo e a vitória iria ser deles.

Na volta para o segundo tempo dois jogadores foram substituídos. Aos três minutos, com o passe do Toninho, Biro marcou o primeiro. Aos oito, mais uma ajuda do capitão, Biro marcou o segundo. Na sequência Toninho marcou o terceiro e o quarto nos minutos finais. O último chutou do meio do campo. A bola pingou no gol do adversário. O goleiro não viu nem a cor da bola. Espetacular. O jovem foi aplaudido de pé. Ovacionado pela torcida. Ergue o braço o juiz. Final de jogo. Quatro para a Escolinha e dois para os radialistas.

Os profissionais da comunicação deixaram uma cópia da gravação da partida em poder do presidente da Escola de Futebol. Este reproduziu e enviou para alguns clubes. Em seis meses não houve respostas. Resolveu fazer a coisa mais ousada. Mandou para outros países. A primeira resposta foi de Portugal. De repente o Benfica poderia ter um excelente jogador. Outras começaram a chegar... mais outras...

No Japão o rapaz se tornou ídolo. Em todo o lugar que chegava, era abordado por repórteres e fãs. Toninho que ninguém acreditava, ninguém dava valor, tornou-se estrela graças à influência da mídia na sociedade. Pra tudo e todas as coisas tem o momento certo. É só acreditar e não desanimar.

(Christiano Nunes)