reflexo

Ondas urbanas com telhas e escadas, faces mundanas, fezes e a incessante escolha atravessando paredes falsas e entrando em cérebros por vários orifícios. O vazio é permeado pela lógica e razão , um bolo de carne , moída e pisada, por séculos de valores falsos e necessários.

Sentado num banco de praça , ouvindo o som dos passos , apressados e também necessários, percebo o mundo como um rabisco ou rascunho , de formas diversas , mas comuns, e de cheiro fétido e desagradável. Olhando e sentindo a multidão em frente à estação penso nos excrementos e necessidades biológicas de todos em meu campo de visão e me pergunto pra onde vai essa merda toda.

As migalhas que sustentam pombas e ratos se misturam ao piche e ao cheiro forte de tabaco , os gritos tão freqüentes e requintados se escondem em nuvens de poluição ,sirenes e alarmes irritantemente sensíveis , como cérebros depressivos e sem escapismos.

Olhando o céu , ao cair da noite, da janela de mais um apartamento branco e cinza, vejo a maldita lua e algumas estrelas. Distantes não se pode toca-las ou senti-las ,apenas vê-las , brilhando e queimando no falso céu da falsa cidade . Posso imagina-las refletidas em meus falsos olhos.

As ondas de um mar de lama e varias promessas , o sol se põe no horizonte escarlate e sem vida , os cantos da sala , o meio ambiente, criado por mãos duras e serviçais , e os rostos que vivem nela sem esboçar nem um simples obrigado. As paredes frias e duras me envolvem , como cadaveres ou laminas , cortando minha pele imaginaria , sugando meu sangue feito de tinta fresca, esmagando ossos e transformando-os no alimento dos ratos e insetos que vivem dentro delas.

Hoje descobri ,que o tempo é um momento e todo relogio deveria conter apenas 1 segundo. Correndo pela planicie ,fugindo do sempre , montado no agora , seguindo o amanhã sinto o vento , as horas passam , mas minhas roupas continuam amassadas , minha face continua amassada, e a planicie, infinita, insuportavelmente concreta. o orvalho e os besouros ,anunciam a chegada de mais uma alvorada.

Me sento na calçada e sinto as batidas de mais um coração patetico e pulsante.A força que ele faz a cada segundo para manter meu ser vivo me causa repulsa, o asco cria uma sombra , um vulto manchado de vomito e sangue . Expelido ele cai na sarjeta ao meu lado, sua respiração ofegante e cansada, seus olhos e sua boca fechados, ele se recusa a existir . Passados alguns segundos ele se senta ao meu lado, o sol e o nojo criam sua silhueta.

O abraço é gélido, me levanto.