'' NASCONDERSI ''

"" Perché l´amore sa nascondersi ""

...em italiano significa '' se esconder '' e foi isto mesmo que meu amigo Everaldo veio me contando de sua volta da Italia depois de morar por lá mais de vinte e tantos anos.

Everaldo é neto de italianos e porisso quando mais jovem conseguiu a cidadania italiana e foi para a Italia em busca de seus sonhos e de uma vida que ele achava seria melhor, os primeiros anos foram difícies, longe da familia, sozinho e o clima frio, a neve, não ajudava, mas mesmo assim foi ficando, casou, teve filhos , divorciou e um dia fez uma entrevista de trabalho e foi contratado..era o tipo de pessoa ideal para o trabalho que a agência procurava para uma cliente, cliente esta que Everaldo mais tarde descobriu era riquissima.

A funcionária da agência providenciou tudo...os papeis, o transporte, a chegada na mansão no campo, uma grande plantação escondida nas altas montanhas, e Everaldo recebeu as últimas instruções...e foi-lhe recomendado que nunca, mas nunca mesmo tentasse ver, olhar, para a rica proprietária que vivia reclusa em uma parte da casa, ele seria o '' mordomo '', teria que providenciar tudo na propriedade, receberia ordens escritas da misteriosa mulher que foi lhe dito que deveria estar nos seus sessenta e tantos anos e ninguem sabia com certeza quem era, de onde tinha vindo, sabiam apenas que era rica e que pagava bem tudo que exigia...uma cozinheira que morava na redondeza vinha pela manhã, preparava tudo, limpava o que tinha que ser limpo e ao meio dia ia embora e Everaldo ficaria so´e tomando conta dos empregados do campo que recolhiam tudo e se iam...Everaldo tinha um pequeno apartamento logo abaixo da escada principal da casa e se a velha senhora necessitasse de sua ajuda havia um interfone ao lado da cama de Everaldo...nunca em quase os vinte anos em que ele por lá trabalhou este interfone tocou uma vez que seja...e ele nunca viu a face, o rosto, de sua patroa e muito menos qualquer dos empregados e nem o pessoal da agencia viram...e tudo era providenciado por Everaldo.

A vida ficou monótona para ele, solidão, noites solitárias e falta de convivio social, de conversas e ele entrou em negociação com a agência...passou a ter a noite de sabados livre e duas vezes por mês emendava com o domingo, um funcionário de confiânça da agência vinha substitui-lo....saia a passear, quando o tempo permitia, pelos vilarejos da redondeza e foi algumas vezes 'a Roma, Nápoles e outras cidades...e o tempo correu, passou, ele tomando conta de tudo, dinheiro guardado, não tinha gasto com nada... tudo era pago pela misteriosa patroa...e uma manhã as instruções não vieram como de costume...ele aguardou até o fim da tarde e nada de novas instruções...chamou a agência, vieram já com uma ambulância e com o único médico que estava autorizado a entrar nos aposentos e mesmo assim sempre que o doutor a examinava, ela cobria seu rosto e nem ele nunca a via...via seu corpo mas não seu rosto...chegaram, o médico subiu, voltou e deu a noticia...havia morrido!!!

Everaldo e a agência tudo providenciaram...e foi aquele trabalho preparar os funerais...não havia um documento que dizia o nome, a identidade da estranha senhora...a propriedade, as contas bancárias,tinham um nome e com este ela foi sepultada, mas nada de data de nascimento, cidade em que nasceu, filiação...nada.

Alguns dias depois, uma semana após o sepultamento mais ou menos, apareceu na propriedade um advogado trazido pelo funcionário da agência e leu os papeis do testamento...a propriedade passava a ser agora do convento da freiras Carmelitas que para ali iriam se transferir do antigo convento e passariam a cuidar de tudo, para a agência deixava uma quantia de dinheiro bem grande, para Everaldo deixava algumas propriedades em diversos lugares da Italia e tambem uma soma bem apreciável em dinheiro que estava depositado em um banco, jóias, papeis e ações...e assim agradecia pelo trabalho dele e o recompensava...e foi tudo....a vida continuou.

Everaldo se despediu do lugar, de alguns amigos, antigos funcionários, pegou suas coisas e foi conferir suas propriedades, suas novas contas bancárias e tudo o mais....e ao verificar algumas propriedades viu que não lhe interessavam e as vendeu para os moradores, antigos inquilinos...ficou com apenas uma pequena '' villa '' perto de Roma e passou a morar por ali...agora era o dono, havia um jardineiro, velho funcionário que Everaldo conservou e foi quem lhe contou a mais incrivel '' estoria '' que ele jamais havia ouvido..ficou pasmo, chocado, sonhou noites com este assunto, teve até febre, calafrios e arrepios...passou noites sem dormir...

""" Edvina, este era o nome real da velha senhora, era filha de um rico banqueiro, era linda, uma boneca, tinha um irmão mais velho dois anos que ela e outros menores, mas ela era a preferida de todos, sua beleza, sua bondade contagiava, era alegre, inteligente e aos dezesseis anos ela e seu irmão Angelo, o mais velho se apaixonaram, tiveram um caso tórrido de amor, tudo escondido, bem escondido, mas o fruto veio e os pais, principalmente o pai soube de tudo, do amor incestuoso dos dois e do fruto que estava para nascer...mandou o filho para uma academia do exercito e arranjou que ele fosse transferido para as fronteiras do norte onde morreu em uma briga de rua....e quando o fruto do pecado nasceu o proprio pai na frente de Edvina o estrangulou e o enterrou onde ninguem nunca soube...enviou Edvina para um convento de freiras na ultima cidade da fronteira ao norte com ordens expressa, e com uma boa soma de dinheiro por ano, para que ela nunca saisse de lá....mas depois de alguns anos Edvina tinha escapado, ninguem nunca soube como, e sumiu, desapareceu e nunca foi encontrada...depois do acontecido, a familia foi se desagregando, a mão faleceu, os irmãos menores se dispersaram, sumiram e nunca mais foram vistos...o pai morreu solitário e lamentando a filha...deixou todos seus bens para ela, que se um dia voltasse encontrasse pelo menos com o que sobreviver...ela soube...enviou advogados que tomaram conta de tudo e ela viveu reclusa o resto de sua vida...lamentando o amor perdido... o amor incestuoso que viveu intensamente...''' terminou o velho jardineiro de contar...ficaram calados, ele e Everaldo, alguns minutos e se despediram...

Everaldo dias depois vasculhando velhos móveis descobriu um velho pacote de cartas, cartas do irmão para Edvina, que lhe dizia o quanto a amava, o quanto sentia sua falta, que queria se reunir com ela e com o filho que iria nascer e que tinha recebidos as cartas dela tambem e acreditava sim no quanto ela tambem o amava...guardou tudo no mesmo lugar...fechou a villa, foi viajar e na volta resolveu e vendeu tudo que restava...juntou tudo e voltou para o Brasil e agora estamos aqui sentados tomando a '' fresca '' da tarde e tambem uma gelada e ele me contando esta incrivel ''estória '' que nem dá para acreditar ser verdadeira...não daria, mas como ele mesmo diz...a prova esta´aqui, visivel...uma boa vida, bom dinheiro, boa casa, bom carro...boa aposentadoria..e como dizem por ai....

Desgraça de uns...alegria de outros

Uma '' estória '' de amor infeliz que começou muitos anos atras e teve desfecho trágico para aqueles que se amaram de uma maneira tão diferente e um final feliz para alguem que vivia do outro lado do mundo e nem sonhava, nem nascido era quando tudo acontecia, que um dia iria usufruir dos '' lucros '' deste amor....

Mistérios insondáveis das mentes humanas e dos destinos dados aos seres ditos humanos....

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WILLIAM ROBERTO CUNHA
Enviado por WILLIAM ROBERTO CUNHA em 07/05/2012
Código do texto: T3655422