*A revolta dos ...

A revolta dos ...

Certamente, há momentos em que nos encontramos completamente fora do ar, como se o tempo houvesse parado, o cérebro estancado, deixando nosso nossos pensamentos a zero grau, amorfos. Como se costuma falar cá no Nordeste: esperando que o mundo se acabe em barrancos, para que possamos morrer encostados...!

Eu estava nesse estado, quando me apareceu um colega, tentando elevar-me a mente:

- Moza, você já pensou em escrever uma novela? Que tal? Com certeza lhe fará bem.

Lembro-me de ter dado como resposta o fato de que de novela já me bastava a que eu estava afogado!... Eu andava realmente abafado com tantos problemas com o meu "ganha pão", a agenda abarrotada e nenhuma folga. Claro que essa proposta era-me absolutamente sem nexo para qualquer época e especialmente naquele momento, em que eu não me achava apto a escrever um "o" que fosse.

Esse assunto não me causava o menor arroubo, prazer ou algo do gênero, mas, como é questão de ordem, os recordes e obstáculos são peças pré-moldadas sob encomenda para os vencedores, crentes e até para os não prudentes e loucos.

Mas é verdade que esse projeto, embora avesso aos meus planos e costumes, acabou tomando forma e, aos poucos, alguns rascunhos foram elaborados. Era um romance de amor puro, falando de saudades, mas sem os estragos dos escândalos e das deslealdades, por vezes comuns em outros desdobramentos novelescos, como por exemplo, o comportamento gay, um caso extraconjugal, a corrupções e etc.

Acho que um conto, para ser bom ou pelo menos razoável, nem sempre tem que se embrenhar nos parâmetros adorados pelos sensores. Também eu não estava preocupado com a gestação de uma obra majestosa, renovadora, de tal modo preparada a tornar-me benemerente de aplausos, placa de ouro e ser exemplo em convenções. Em tempo algum, me passou pela cabeça o desejo de receber condecorações ou algo que me levasse a postular uma vaga entre os arautos de nossa terra.

Na época dos computadores em que todos já estavam lado a lado com mauses, screens, keyboards e outros babados, desenvolvendo complexas equações, eu demonstrava lealdade àquela velha engenhoca alemã, escrevedora de palavras de teclado alto, marca Adler, mesmo sabendo que ela sofrendo com ação do tempo que cruelmente lhe arrancara uma tecla vogal, o que podava os meus já poucos recursos.

Foram quase dezenove meses de trabalho, ou seja, um ano e sete meses de lutas noturnas, varando madrugadas, para completar a tarefa, sem causar danos aos contratos paralelos. Até que, encerrada a obra, para meu sossego e conforto, devo confessar que o labor me deu prazer, embora não tenha a menor pretensão de me aventurar noutra causa semelhante.

Faltava-me apenas colocar o nome no trabalho, mas este não era, de todo, um embaraço, tanto que, após alguns segundos, estava dada a sentença. A REVOLUÇÃO DOS IS (i).

Só que essa letra teve que ser colocada de caneta, porque essa era justamente a vogal que faltava no teclado.

N.A.

Este texto é apenas uma amostra de que se pode escrever sem a vogal i.

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Filosofia de botequim:

Não confundas Papa Nicolau com papanicolau.