Desgraçados Pães

Caleb andava triste e abatido, sabia que ele e sua esposa não sobreviriam muito tempo naquela total miséria. Foi então que decidiu tomar uma atitude, e assim indaga à esposa: “Matilde, estamos a três meses casados, e nesse tempo em nenhum momento tivemos fartura em nada. Querendo eu mudar esse estado, penso que o melhor que posso fazer é procurar um emprego, e depois de ganhar algum dinheiro voltar para teus braços, para que assim possamos ser de fato felizes’’.

Matilde, sem muita opção acerca da proposta do marido, a aceita. Apenas pede que o marido lhe prometa fidelidade, assim como ela também lhe prometera. Dada a despedida entre os dois, Caleb segue seu rumo em busca da possível futura felicidade. Depois de duas semanas perambulando por regiões remotas, o jovem encontra um senhor de fazenda disposto a lhe dar um emprego. A única condição do dono foi que Caleb ficasse lá até seus – do senhor da fazenda – últimos dias de vida, estando o senhor com mais de 60 anos, o matuto aceita a proposta.

Vinte e cinco anos depois, a beira da morte, o senhor coloca ao lado da cama, cuja estava deitado, duas sacolas com dinheiro, que com certeza teriam pelo menos o necessário para pagar o jovem pelos anos de serviço prestados. O velho senhor chama Caleb ao pé da cama e lhe faz um alvitre: “Meu jovem, tu foste fiel a mim até esse momento, e chegando eu em morte, devo lhe retribuir a altura. Apenas lhe faço uma proposta’’. Caleb a escuta sem saber ao certo o que escolher. A proposta do velho era que Caleb trocasse seu salário por dois pães e um conselho, ou de fato levasse o seu respectivo pagamento. O jovem por ser uma pessoa humilde, acreditou que lhe valeria a proposta, e também não conseguiria dizer não ao seu senhor à beira da morte, depois de tudo que esse por ele fizera.

O jovem então aceita a troca, e o velho lhe dando os pães lhe dirige a palavra: “ Meu filho, esses pães serão a sua primeira refeição com sua esposa quando chagares em casa. E meu conselho é que nunca tu prometas algo como me prometeres agora, pois não é sensata a promessa feita quando se está feliz, e muito menos é a decisão tomada quando se está irritado. Tome o seu pão e se vá’’.

Caleb irritado, sentindo-se enganado pelo seu senhor sai sem se despedir, pega seus pães e caminha em direção à sua casa. Ao chegar próximo de sua casa, tem uma supressa: Matilde, sua amada, com a cabeça deitada no colo de um jovem rapaz. Sem pensar duas vezes Caleb corre raivoso em direção aos dois. Chegando próximo a eles, os matou antes que pudessem sequer tentar se defender. Tamanha era a raiva de Caleb, que ao ver os pães em sua sacola, os pegou e colocou-os cada um dentro da boca de um dos traidores. O jovem chorando de raiva sai de lá e vai se hospedar em um hotel próximo (com o pouco dinheiro que lhe restara, dos bônus dados durante esses anos pelo seu senhor).

Na manhã seguinte, mais calmo, Caleb pega o jornal que estava em cima de uma mesa e lê a manchete em destaque na primeira página com os seguintes dizeres: “Encontrados hoje de madrugada, mãe e filho mortos na varanda de casa. O mais intrigante é que a pericia encontrou em suas gargantas migalhas de pães e dezenas de moedas de ouro”.

Chorando desesperadamente em cima das pautadas folhos do jornal, Caleb se detém em profundo desespero, e então lembra do conselho de seu velho senhor, e percebe que não foi enganado, pelo contrário, dentro dos dois pães havia muito mais dinheiro do que ele receberia pelos vinte e cinco anos de serviço prestados. E muito pior que a dor e o ressentimento pelo dinheiro, foram as que lhe proporcionaram o fato de perceber que na verdade, quando ele saiu, sua mulher estava grávida, e aquele traidor na verdade nada mais era do que seu lindo filho.

Um dos primeiros contos que escrevi, reduzi-lo aqui no Recanto das Letras para ser menos cansativo.