AS GRAVIDEZES DE DOIDIVÂNIA
 

 
{{[[((alguns já conhecem este texto lá da minha escrivaninha particular, mas...))]]}}



Tenho DOIDIVÂNIA na mais alta conta, até chamo para minha responsabilidade suas traquinagens, sem cobrar nada em troca. Transporto suas mais ínfimas emoções para dentro do meu enredo, burilando de tal maneira que tudo seja visto nos conformes e ditames d“ELA”. Só nas entrelinhas no papel. Tanto que fiz de tudo para criar uma personagem querida, que de vez em quando, gostasse de aparecer nos meus textos. Tanto escrevi sobre “ELA” que ficou sendo a própria.

Na primeira página, por volta das cinco da matina, “ELA” estava apaixonada. Entregara-se ao seu homem... Às nove da manhã estava prenhe... Às quatro da tarde já deu a luz um texto pornográfico. Eu não sabia que ela já era mãe de um casal de gêmeos: artigo insólito e prosa hilária.

Às oito da noite rompeu comigo, seu amante/marido e pede divórcio.

Não é que seu cérebro seja miolo de pão. É que “ELA” não tem cuidado; ama qualquer macho que saiba rimar versos e/ou juntar letras, nem precisa ser palavra coerrente.

Por volta das treze horas do dia seguinte estava contente. Arrependeu-se de ter mandado seu “AMOR” às favas; e, volta a trás, o aceita na sua cama. Por um acaso, às vinte e três horas daquela mesma noite estava novamente grávida. Ao romper da aurora do dia subsequente dá a luz, desta vez uma poesia cubista.

O mundo das letras, depois de tantas páginas digitadas, algumas em branco e outras tantas garatujadas faz “ELA” ficar doente. Nada grave, apenas uma enxaqueca literária.

Ao se recuperar me ama novamente.

Que maravilha! Fiquei feliz, posso voltar ao texto original, sem embaçar a semântica; e, nem atropelar a gramática. Mas eis que “ELA” andava quieta demais. Ou poderia dizer que se movimentava fazendo curvas. Com subterfúgios. Não gosto quando vem pelas beiradas. Gosto de linha reta. Para não se acidentar na estrada da vida. Enfim...

Uma amiga envenenou sua maternidade, dizendo que o relógio biológico da reprodução precisa ser acertado com o relógio da conta bancária. Mas como, se o pai não tem um couro para morrer no forrado? A psicanálise da coisa, conforme o veneno da amiga, afirma que a mãe rejeita o feto, antes do nascimento, se este traz culpa para o bolso vazio.

Seria esta uma das razões do não entendimento dos leitores deste conto/crônica?

 “ELA” ruía as unhas. Perdia peso. Andava chorando pelos cantos. Pensava que eu não notava. Abandonei o computador, nem toquei mais no teclado, resolvi dar um tempo. Se precisava de descanso, dei-o. Passaram-se anos, dentro de uma relatividade subjetiva. Esperei por “ELA” na curva do tempo.

Agora preciso falar... Escrever... Não é nada importante... É só para solicitar um pedido de exame... Suspeito que DOIDIVÃNIA está grávida novamente... No presente do indicativo...  

- Oh! Meu Deus!  Que se realize meu sonho neste feto! Tomara que seja uma piada, ainda que sem graça!
 
 
(março/2011)
Corte de Gorobixaba
Enviado por Corte de Gorobixaba em 15/08/2012
Código do texto: T3831224
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.