O Brado da Coli (¹)
Copyright Soaroir de Campos
2 Set 2012
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Por mais bravio e convicto que possa lhes parecer, a narrativa que estou à teclar, não espero nem peço crença. Louca eu estaria de esperar que, uma tão antiga história recontada há mais de dois séculos, meus sentidos rejeitassem as evidências.

Entre muitas outras árvores nativas preservadas pelo Dr. Ihering, deita-se um príncipe sob a sombra de dois cedrella fissilis enquanto seus três caceteiros saem em busca de água inclusive para os cavalos. Cansado da longa viagem de visita a parte de seu território, o jovem príncipe adormece.

Às vésperas da Primavera no Hemisfério Sul, uma fina garoa se precipita, refrescando a mente e o ataviado corpo do principezinho.

Alfonso chega com um cantil e acorda o herdeiro que avidamente engole a água e volta a dormir, sem ouvir o aviso do jagunço: “Majestade, eu trouxe a água, mas ela é muito vermelha”. Notícia que mais tarde se conhece as consequências.Dorme profundamente e sonha com toda aquela vida miserável que sempre teve desde quando ainda puto. Sem vídeo game, televisão, internet... Nada, nada, mas obrigações e deveres que preenchiam sua existência.

A menos de um mês de completar 24 anos, o nobre rapaz sonha com as intempéries do reino, o que bem conhece desde miúdo; com a fuga da família real e a travessia do Atlântico quando então é acordado por seus guarda-costas, avisando-o de que alguém se aproxima.

Assustado e ainda sonolento, se retorcendo (de dor) pelo efeito da água do rio vermelho que havia bebido, monta seu puro sangue que já o aguarda arreado e, com a espada desembainhada e em riste, segue a declive até avistar um cavaleiro que de longe anuncia: “Trago notícias da corte!”. Menos ansioso o jovem príncipe espera a chegada do mensageiro que se aproxima no exato momento em que este tenta esvaziar a bexiga; pede para que lhe seja lida a mensagem e em seguida, em estado de quase alucinação, grita: “deixem-me cá em paz! Já disse que FICO. Cumpram-se...”

O mensageiro já perto de desaparecer na curva à margem do Y Piranga, quando pela Mata Atlântica um grito ecoa...

“Independência ou morte!”.




(¹) A Coli (Escherichia coli- também conhecida pela abreviatura E. coli) bacteria bacilar gram-negativa, que, juntamente com o Staphylococcus aureus é a mais comum e uma das mais antigas bactérias simbiontes do homem. O seu descobridor foi o alemão-austríaco Theodor Escherich, somente em 1885 (fonte:Wikipedia)

Este texto é parte do "EC - Exercício Criativo".
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Soaroir
Enviado por Soaroir em 02/09/2012
Reeditado em 03/09/2012
Código do texto: T3861675
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