O Céu Tem Limite

O peregrino, segue sua marcha em direção ao cume. Nunca se sabe quando e nem irá chegar, nem mesmo se irá. Mas o desejo de prosseguir, faz com que os pés cansados, não desistam de encarar os degraus de pedra, que parecem etapas de uma vida sendo exercida. Os amigos vão ficando para trás, só a pouca vegetação é o que resta. Nas mãos, aquele pedaço de madeira, longo que parece a haste de um estandarte, daqueles enormes, que vemos em grandes eventos e que envergam a ponto de parecer trincar a qualquer momento. Quanto mais distante do solo, mais solitário. O olhar enxerga tudo tão pequeno, que acredita no quão ignóbeis são todos aqueles valores deixados no mar de formigas, que já desaparecem, formando uma poeira evanescente. A raça, humana, é uma espécie que surpreende, pela tentativa de renegar sua natureza, que não é tão distinta quanto à das outras espécies.

No grupo, moças e rapazes, tentam formar sua árvore genealógica, que fora fragmentada ao longo de gerações. O desejo do continuísmo e a busca pela origem, remetem a uma vontade de se ter um criador. Tolas criaturas, que buscam no sangue, o fluído vital, outrora desejado por antigos filósofos, agora renegado, por um cientificismo mais pragmático. Somos apenas pragas, que devoram tudo, a ponto de sem alimento, sucumbir no seu próprio meio, que devora os devoradores. O drama está organizado, com lágrimas de reencontro e frustrações. Dois lados de uma mesma moeda. Mas esse capital sentimental, possui valores que escapam a lógica contábil dos estudiosos das emoções. A morte é a companheira da procura, mantendo sua discrição atuante, enquanto não se encontra o desejado. O que faz compreender as lágrimas da menina, revendo quem desejava, espantado a morte, mesmo que temporariamente, já que essa figura, é uma constante entre os vivos. A arguta observação humana, fez com que percebesse esse fenômeno inquestionável, e embora lute contra esse fato, tende a sucumbir, quando menos espera, ou quando muito aguarda.

O nômade temporário, alcança o penúltimo degrau rochoso. Levanta sua vara, quase se pondo na ponta dos pés. Escutando um som seco e uma força de resistência quando a ponta de seu instrumento toca o céu. Sim, não existe mais além. O céu é tocado feito o teto de uma residência, rígido e intransponível. Chegara ao limite, ainda que desse o último passo, já sabe que acima, alcançara o cume com aquela sua extensão de madeira. O céu tem limite. Ao contrário do que tanto se pregava, desde os antigos ritos, quando religiosos pregavam sobre um paraíso, que não poderia ser aquele invólucro. Os cientistas, que diziam mandar sondas e explorar outros planetas, também eram enganadores, já que se encerrava ali. Salvo, se existisse uma abertura, onde pudessem enviar sua matéria espacial. Quem sabe daí, venha as teorias dos buracos na camada de ozônio. Talvez tenha apenas alcançado uma das camadas. Cercados por uma grossa camada, que envolve esse território, chamado planeta. Ainda assim, como alcancei, já que é possível ver pássaros orgânicos e mecânicos, povoando sobre nossas cabeças e a uma distância impossível de alcançarmos.

A montanha não era tão alta. Posso afirmar, pelo pouco esforço em alcançar o topo. Salvo, se ocorrera alguma inclinação terrestre, que fizesse o solo se aproximar naquele ponto do céu. Diria que isso fora uma milagre. Algum deus antigo piedoso, já que os atuais parecem mais rígidos com sua criação, deve ter colocado o peso de seu poder em um lado do globo. O objetivo é sempre prometéico. Na tentativa de chegar a verdade única ou última, acabamos nos deparando com esse obstáculo, que é, um resultado insatisfatório. Pensamos tanto sobre o início e o fim, quando no meio, onde ocorre a máxima tensão e experienciamos o que há de mais sublime. Se o Olimpo existisse, me contentaria com o viver, bem como não temeria o Hades. Agora, ao tocar o céu, me lanço de braços abertos ao mundo, feito um pássaro em queda livre, sem asas para poder voar. Deixo a queda me purificar, pois essa eu sentirei, com a toda a fúria da gravidade, mesmo não tendo sentido a caminhada até o topo. Uma pluma de carne carregada pelo vento, que me acolhe e transporta até o solo. A morte é sempre a esperança por novos vivos. A eternidade é social, porque o indivíduo sucumbe pelo todo, eis a grande lição aristotélica.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 04/03/2013
Código do texto: T4170685
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