Perturbação
Aquela já era a quarta vez que ela atendia o telefone e sempre ouvia o mesmo silêncio do outro lado.
Nenhuma voz, nenhum alô... nenhum olá.
Estava ficando incomodada pois gostava de sua privacidade, de sua vida anônima e no entanto, aquela desconhecida pessoa do outro lado da linha insistia em querer tornar-se íntima dela. Sabia que era sempre a mesma pessoa porque o modo de ação era sempre o mesmo, e essa perturbação vinha acontecendo a mais de um mês.
O telefone tocava e depois do terceiro toque ela atendia e ouvia o mesmo silêncio. Se ao menos esse estranho diferenciasse o silêncio ela até que poderia ficar em dúvida. Mas não! O silêncio era sempre o mesmo, e pelo jeito ele não pretendia nem disfarçar.
Cansou-se daquela situação. Não poderia permitir que continuassem a perturbá-la e não daria brecha para que adentrassem na sua íntima privacidade.
No dia seguinte, sua primeira providência fora ir pessoalmente registrar sua queixa na companhia telefônica solicitando que desativassem sua linha por tempo indeterminado.
Feito isso, voltou para casa aliviada. Sabia que daquele momento em diante teria sossego. Teria a paz e a calmaria que sua vida solitária lhe proporcionava.
Dias depois leva um enorme susto. Ao atender o interfone ouve a voz do carteiro a lhe dizer que havia um telegrama para ela.
Não era possível! O estranho que tentava violar sua intimidade estaria agora enviando telegramas?
Exita bastante frente ao telegrama. Medo e curiosidade. Curiosidade e medo.
Decide. Abre o telegrama e lê:
A Cia. Telefônica vem informar-lhe que seu pedido de desligamento temporário da sua linha telefônica não foi possível de ser atendido.
Sua linha já encontrava-se desconectada do poste externo há mais de cinco meses.
Por engano foi desligada na ocasião a sua linha quando deveria ter sido a linha da residência ao lado.
Pedimos desculpas pelo transtorno.