Leis Diferentes

Fartos do regabofe dos cidadãos, os deuses daquela terra mágica, decidiram puni-los ou premiá-los de acordo com regras drásticas. Uma mentira inocente e caía, ao prevaricador, um dedo, as pestanas ou um dente. Uma mentira das que lesam muito toda a gente dava direito a perda de braços, pernas, cabelo e olhos segundo normas precisas. Ninguém perdia, ao mesmo tempo, órgãos pares e nunca as perdas seriam passíveis de disfarce. Uma meia careca denunciava maldade e não alopecia; um olho sem pestanas era, invariavelmente, sinal de adultério; alguém aos saltinhos numa só perna era patife acabado e mãos sem dedos significavam falsas declarações em juízo, roubo com agressão ou descontrolo no trânsito. No polo oposto, as boas atitudes simples, libertavam as pessoas de rugas, cabelos brancos, manchas na pele e dedicações mais intensas restauravam membros perdidos, aformoseavam o corpo e ampliavam a libido. Os jogos do amor eram difíceis neste quadro de estímulo e contenção. Havia de tudo a circular. A paisagem urbana assemelhava-se ao melhor de Picasso ou Basquiat mas as pessoas ajudavam-se umas às outras. Hoje por ti amanhã por mim, pensavam. Quando te conheci estavas coxa e com metade da cabeça careca. Ainda assim, eras amorosa e confirmo que fiquei cada vez mais apaixonado à medida que o cabelo te renascia e ao constatar que já caminhavas sem canadianas e com grande elegância. Foi uma pena teres avançado o sinal e atropelado a velhinha porque teremos de adiar o casamento. Concordo que, sem a mão esquerda e só com um olho não ficarias bem nas fotos. Mas…esperaremos. Estou a fazer voluntariado para ver se reduzo a barriga. Sei que te agrado assim mas tu mereces mais…

Edgardo Xavier
Enviado por Edgardo Xavier em 03/04/2013
Reeditado em 03/04/2013
Código do texto: T4221977
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