FLORINDA, A FLOR DEFLORADA

A denominação de virgem é para as santas, as mais castas criaturas femininas. Flô não é santa. Nunca pretendeu ser. Não foi coroada com uma auréola reluzente. Mas acha que é casta. Educada e meiga, se dá com todos, embora nunca tenha dado para ninguém. Jamais deixou alguém tocar as partes íntimas. Ao namorar apenas beijos não muito calientes. Toques nos seios ou nas coxas nem pensar.

Florinda não é uma flor, mas desabrocha em sorrisos, conquistando as pessoas. As mulheres a querem como amiga. Os homens desejam seu sexo ardente.

É a Flô que todos os jardineiros desejam regar, que todos querem deflorar.

Levada a leilão, nem os maços de cédulas a seduzem. Os mais ousados sequer conseguem lançar preço à joia. Ela fica entendiada com as ofertas dos “compradores de cabaços”. A sua honra lhe importa mais que qualquer dinheiro, mais que roupas bonitas, passeios. Automóveis e fama não compram seu pudor.

Cobre o rosto com um véu roxo a vai fazer uma súplica junto ao santuário do padroeiro. Conta com a ajuda divina para afastar a perseguição dos maldosos. Está decidida a só se entregar ao homem que um dia venha desposá-la.

Na penumbra do altar ela divulga a sombra de Nego Bento. Ele vem fazer uma súplica. O negro está desesperado. Quer curar a impotência provocada pelo alcoolismo. Capengando entre os santos e o sacrário ele deposita sobre o monte de ex-votos um enorme pênis de madeira. Implora ao santo para que sua genitália se torne tão rija quanto aquele pedaço de pau.

Flô estremece. É a primeira vez que vê um pênis de verdade. Com o fecho-ecler aberto Nego Bento deixa o enorme órgão pender flácido pela braguilha.

Entre perplexa e fascinada Flô encurta a distância entre ela e Bento, não por curiosidade, mas por piedade.

Bento é discriminado xingado e zombado por todos. Sem amor e sem respeito se punha a vagar pelas ruas, implorando a atenção e a misericórdia de um e outro.

Flô também não tem o devido apreço das pessoas, apenas o desejo.

Num misto de compaixão e curiosidade pela primeira vez Flô põe a mão num órgão masculino. Nego Bento apanha o pênis de madeira dura e o esfrega no púbis da moça. Ela se arrepia, tenta se esquivar e atarantada as mãos acariciam.

Nego Bento está recuperado.

Uma peça de roupa íntima de Flô jogada para um lado indica que ela já é mulher.

Joel de Sá
Enviado por Joel de Sá em 19/06/2013
Reeditado em 19/06/2013
Código do texto: T4348975
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