'' O ESPANTALHO ''

Mais uma vez a Copa do Mundo, e melhor de tudo é que agora é no Brasil...adoooorooo!!! adoro ver e torcer, e mais gostoso ainda é apreciar os ''lindos''....cada um!!!!...a Grécia me deixou maluca de pedra, um helenico mais lindo que o outro e eu querendo até mudar meu nome, me chamar Helena de Valinhos..aiii aiiiii..ai Paris, ai Paris vem me raptar vem..me ''rapita'' e me leva ''pros confins dos montes helenicos'', vou adorar, se vou, vou sim, e os nomes então!!! não me saem da cabeça...Orestis, Dimitris, Vasilis, Panis, Kostas e aqueles sobrenomes impronunciáveis...amei!!! amei tanto, mas tanto...que me empolguei demais da conta e meu lindo amor gaucho macho da fronteira me deu um '' ultimato''...um ultimo '' timatu Mélia si tú não pará de ficar se abrindo que nem paraquedas e ficar ai molhando toda a sua periquita flores e tem mais Mélia, aprenda de uma vez por todas...futebol, copa do mundo, é para ver a bola rolar e o time ganhar e não para ficar olhando partes intimas dos jogadores, comentando com sua mãe e outras mulheres sobre as pernas, as coxas, as bundas dos jogadores, futebol é esporte e não filme pornô...tamos entendidos?

Tamos né, fazer o que!!!, me calei, fiquei na minha,mas continuei, e continuo, de olho em tudo que ele falou, é verdade sim, fico mesmo de olho na coisa ''fofa'' dos lindos, fico e acabô, mas agora que recebei uma boa '' carcada'' tenho que me controlar, principalmente quando o gauchão machão estiver por perto, sento atras do sofá, fico quieta mas de olho, e minha mãe fica do meu lado, olhamos e comentamos por sinais e olhares, o meu gauchão torcendo e nem percebendo nada...mulheres, mulheres!!! com elas ninguem pode e se tiver bigode, ''buçu'', pior...com mulher de bigode nem o diabo pode, kkkkkkkkk....

E para evitar mais e mais ''maus desentedimentos'' resolvi, vou sair e ele que fique vendo os jogos...fui dar uma volta, bati pneu adoidada, e quando dei por mim estava na chácara do seu Lino,...seu Lino, lindinho!!! velhinho já, está com oitenta e oito, sempre plantou, colheu e vendeu suas hortaliças, verduras, legumes, vinha com sua carroça e seu velho cavalo, me colocava na ''garupa'' e levava eu, os filhos deles e toda a molecada da minha rua para dar ''umas voltas nas quadras'', que saudades!!! infância boa demais da conta...bati, veio a filha dele me receber, entrei e fui direto conversar com ele lá embaixo do carramanchão de maracujá...uma sombra deliciosa, uma prosa gostosa e velhas lembranças.

E não sei como e nem porque seu Lino voltou lá nos seus vinte anos e me contou em segredo uma coisa de arrepiar, não acreditei muito nele não, mas depois conversando com minha mãe e ela me olhando com olhos arregalados e me pergutando como eu havia ficado sabendo desta ''estória'' e eu lhe dizendo que havia sido o próprio seu Lino que me contou...ela se arrepiou toda e confirmou que ela acreditava nele e na ''estória'', no segredo dele, que afinal não era segredo nenhum, a cidade toda, os arrebaldes tambem, sabiam disto mas evitam comentar para o bem dos envolvidos, que a mãe dela tinha contado para ela e ela nunca contou para mim, gostava demais de dona Marta e do seu Lino, respeitava a vida deles e assim era com todos os moradores da cidade...respeito pela vida alheia, pelos segredos e mistérios que todo mundo tem, toda cidade tem, fiquei sentida com minha mãe, na hora, mas depois entendi o carinho pela familia de seu Lino e passou a ''bronca'', tadinho!!!

'' Mélia, começou ele, eu estava nos meus vinte anos, gostava demais da Marta, ela estava com dezoito anos, pedi namoro para ela, ela disse não, mas era minha amiga, sempre conversavamos e um dia ela me disse que a avó dela( que era filha de índios, era benzedeira e rezadeira, curandeira da vila onde moravamos lá prás bandas do Lenheiro)... ( um bairro aqui da minha cidade...lindo bairro, adoro!!! ) naquele tempo Mélia era tudo deserto, eram chácaras, sitios, fazendas e nada mais, a cidade ficava longeeee, vinhamos de vez em quando, de carroça, carro nem pensar...a vida era calma, era vida de gente da ''roça'', era bom, e então... a avó de Marta lhe havia dito que ela podia fazer um ''boneco'', uma imagem de homem e que pensasse bastante nele e ele viria ''lhe buscar para casar'', Marta acreditava muito nisto, amava a avó e sabia que a avó não lhe mentiria, jamais!!!

Anos depois Mélia, quando perguntei a avó, antes dela morrer, esta ''estória'',ela me dizia com tristeza que isto era um tipo de brincadeira que ela havia aprendido com a avó dela que aprendeu com a avó da avó dela, que era uma ''lenda'', como a lenda do ''boto'', que era como as moças, as mulheres, fazem no dia de Sto.Antonio, colocam nome em papeizinhos e jogam na fogueira, aquele nome que não se queimar o moço dono dele vai com a moça se casar...espetar uma faca virgem em uma bananeira que ainda não deu frutos, deixar a noite toda por lá e logo de manhã cedinho ir retirar a faca e procurar por um nome que a bananeira deixou marcada, uma letra que seja, e assim por diante...lendas, nada mais que lendas, mas Marta acreditou a fundo e foi fundo.

Morava no sítio e fez um espantalho com as roupas do pai e dos irmãos, encheu de palha, colocou meia e sapatos, luvas eram as mãos, a cabeça feita com uma pequena cesta redonda cheia de palha, cobriu com lã da côr preta e colocou um chapéu de um dos irmãos, ( queria um moreno ) e para o rosto desenhou com carvão os olhos, para a bôca usou uma pedra vermelha que a avó usava para benzimentos, o nariz e as orelhas fez com barro da beira do rio e pronto!!! seu espatalho, seu homem, estava pronto e foi ela e Deus colocar lá na ponta do milharal, já existiam outros espantalhos no sitio, mas nenhum feito por ela, e este era ''lindo'', me dizia ela, eu fui ver e achei horrivel, parecia isto sim um '' coisa ruim'', isto sim, fiquei com ciumes e lhe disse, ela riu e nem deu bola e depois de dias seu pai lhe dizia que os corvos e os pássaros estavam evitando aquela parte do sitio, alias, dizia ele, estavam sumindo de vez do sitio, o que não era bom de todo, isto quebrava o equilibrio ecologico...mas enfim, o milharal agora dava gosto de se ver, bem como todas as outras plantações.

E os dias passavam, eu quase não via mais Marta, ela andava diferente, se escondia de mim, das pessoas, estava arredia, um dia eu a vi na estrada, estava na carroça e quando me viu ''meteu os chicotes no cavalo'', como se diz por aqui e sumiu nas carreiras, fiquei preocupado, comentei com minha familia, minha mãe tambem achava isto, que Marta estava realmente diferente....houve um festa no sitio dela, ela não apareceu, ficou no quarto, tudo escuro, perguntei por ela, a mãe dela estava preocupada bem como toda a familia, não sabiam o que estava acontecendo e assim os dias passando.

Uma tarde o pai de Marta veio na minha casa falar com meus pais, conversaram na sala e depois me chamaram....Marta estava grávida e dizia que o filho era meu....baixei minha cabeça e apenas disse que queria falar com ela, agora, já...fomos.

Fui falar com ela no quarto dela, só eu e ela, fiquei parado esperando a verdade, ela chorava baixinho e quando parou de chorar me perguntou se eu gostava dela...eu disse que sim,....perguntou então se eu queria casar com ela ainda, disse que sim mas eu queria a verdade, a verdade pura.

Me contou, me arrepiei, não acreditei.

Lino, me dizia ela, depois de três dias e três noites que fiz o espantalho aconteceu uma coisa fora do meu contrôle....estava dormindo, deveria ser mais de meia noite, ouvi bater na minha janela, fui abrir e dei de cara com o espantalho...não ri não Lino, foi verdade, lá estava ele me olhando com aqueles olhos enormes, levei um susto, perdi a voz, nem gritar eu consegui, fechei a janela mais que depressa e fui me esconder embaixo das cobertas...de novo as batidas, criei coragem e fui de novo abrir, era ele, ali parado, chovia muito, fiquei com dó, mandei ele entrar, pulou o peitoral da janela, entrou, estava encharcado da chuva, abri a porta do meu quarto e o levei para a cozinha, havia calor e brasas no fogão, ele se esquentou, se secou, voltamos para meu quarto, eu falava, ele apenas balançava a cabeça que sim, que não, eu peguei papel e lapis e ele entendeu o que eu queria, eu perguntava, ele escrevia a resposta...perguntei como ele sabia escrever, ele respondeu que não sabia...apenas sabia e assim foi até de madrugada e depois desta noite ele veio todas as outras, eu o amava, ele me amava, fizemos amor todas as noites durante mais de tres meses....uma manhã minha mãe veio correndo me dizer que haviam '''tacado'' fogo no milharal, sai correndo feito louca e quando cheguei no lugar onde ele deveria estar nada mais havia por lá, só restos no meio ainda do fogo....nada dele foi encontrado, nada, nem um pedaço de nada, das roupas, nada....chorei muito, fiquei triste, queria morrer, não tinha mais vontade de viver, e quando eu descobri que estava esperando um filho dele, primeiro, fiquei apavorada, depois feliz e resolvi...vou tocar minha vida para a frente, vou ter este filho, contei para minha mãe que estava grávida, ela contou para meu pai e irmãos e meu pai me perguntou quem era o pai...Lino, na hora respondi eu, e porisso voce está aqui agora...esta é a verdade, juro, por mim, pelo meu filho...é a verdade.

Marta, eu gosto muito de voce, quero casar com voce mas eu não consigo acreditar nesta '' estória'' toda....me diga quem é o pai, eu vou aceitar e.....

Lino, ela me interrompeu....voce não precisa nem acreditar e muito menos casar comigo se não quiser...eu te contei a verdade, não existe outra, façamos uma coisa...vamos fazer um acôrdo, vamos namorando, esperamos a criança nascer e depois voce decide o que fazer....

Concordei.

A criança nasceu, um menino, dias depois fui vê-lo, levei um susto, me pareceu que ele '' se parecia mesmo com o feio espantalho'', disse isto para Marta, ela me olhou e riu...rimos juntos.

Uma semana depois que o menino nasceu, em uma tarde, veio um amigo do pai de Marta dizer que haviam encontrados roupas e um chapeú´na beira do rio que havia no fundo do sitio, o amigo acreditava ser do pai de Marta, a policia havia sido chamada e estavam procurando por restos humanos, não haviam encontrado nada, o pai de Marta, os irmãos, ela e a mãe foram até o local...eram mesmos as roupas que ela havia usado para fazer o espantalho...e nunca foram encontrados restos humanos..ficou o mistério.

Durante muito tempo isto foi assunto na redondeza, depois o povo foi esquecendo, menos eu e Marta, de vez em quando conversavamos sobre isto e eu resolvi....casei com ela.

Tocamos a vida para a frente, formamos uma grande familia, tivemos filhos e Zezito, como apelidados o primeiro menino, Jose era o nome dele, crescia no meio dos outros filhos, ninguem desconfiava de nada, ninguem sabia da assunto...e assim dez anos se passaram...

Zezito estava com onze anos, uma noite acordou gritando e acordou a casa toda....acalmamos e ele nos contava o seu sonho, o seu pesadelo....sonhava que estava andando de noite no meio de um milharal, um espantalho ''criou'' vida e ficou no meio do caminho de braços abertos o chamando...ele com medo queria fugir, não conseguia, o espantalho o atraia como um imã...foi quando ele gritou e acordou.

E durante meses foi isto....sonhava sempre com a mesma coisa...um milharal, um espantalho, e gritos....Zezito mudou, tinha medo de ir dormir, fazia xixi na cama, na escola estava indo cada vez pior, não queria ir para a escola, tinha medo de tudo, mesmo durante o dia.....uma noite foi pior, acordou gritando que estava tudo queimando e tambem o espantalho, que tentava apagar o fogo do seu corpo e Zezito viu quando ele saiu correndo em direção ao rio....ficamos pasmos, calados, Marta chorava...eu a abraçava e chorava junto, Zezito não entendia nada.

Uma noite, de novo os gritos, e Zezito nos contando que o espantalho havia conseguido chegar a beira do rio, ali caiu e ficou se queimando, não deu tempo dele entrar na agua, veio uma chuva forte e Zezito não viu mais nada...e de novo eu e Marta querendo saber como ele poderia saber destas coisas, a familia toda, os amigos, juravam que nunca comentavam esta '' lenda '' já se faziam muitos anos, como Zezito sabia era um mistério...

Outra noite, outro pesadelo e desta vez Zezito nos assutando...dizia ele que o espantalho lhe dizia que era seu '' pai '' e que viria lhe buscar em breve para viverem juntos...ficamos apavorados.

Zezito caiu doente, havia apanhado chuva na volta da escola, ...pneumonia, disse o médico...galopante,...Zezito morreu em menos de tres dias....foi a devastação na familia.

Ficamos arrazados, a vida demorou para voltar ao normal, voltou aos poucos mas nunca mais foi a mesma, nunca mais foi igual, ficou uma grande tristeza que Marta carregou com ela até o dia de sua morte....ehhhh!!! Mélia, assim é a vida...cheia de mistérios...mas me conta Mélia, como vai indo a sua vida?

Ahhh seu Lino, vai assim assim....sempre na mesma, nada muda e quando tento mudar alguma coisa...credo!!! lá vem o meu gaucho macho da fronteira e bam...''lasca'' o pau, me tira do '' mau'' caminho e como diz ele me coloca de novo no ''bom'' caminho...marvado!! ihhhh neim ti conto seu Lino, hoje mesmo por causa do jogo dos gregos ficou matracando nas minhas oreiras...larguei ele falando sozinho e vim conversar com o senhor...ainda bem, cruz credo!!!...nem ''gostá'' mais dos lindos eu posso...bão seu Lino a prosa tá boa mas tenho que ir indo...mas pode deixá que dias destes eu volto de novo.....me despedi e fui indo....

Cheguei em casa ainda com a ''estória'' do espantalho na minha cabeça, entrei e o gauchão machão da fronteira já foi me olhando e rindo e dizendo com gôsto....''' os gregos se fuderam, já vão partir de mala e cuia...kkkkkkk...'''....olhei de um jeito para ele que ele parou na hora de rir, voltou a olhar para a tv.e assistir os comentários sobre os deuses gregos...lindos...fui tomar banho e nem liguei para os comentários maldosos....mas eu tenho um surpresa para o meu gaucho macho da fronteira....a França continua na parada e o lindo Benzema lá no campo, e no meu coração...que pena que não posso tê-lo em outros lugares do meu corpo...que pena!!! e tem mais...tem muitos mais ''lindos'' ainda por aqui jogando...vou torcer adoidada por todos e que vença o melhor..na copa, que no meu quarto quem ganha a copa é mesmo o danadão do gauchão...ainda bem...ainda bem....sonhar faz bem, ao corpo e a mente...porisso sonho, agora podem acreditar...se eu conseguir eu faço meu sonho virar realidade...gaucho que se cuide...kkkkkkkkkkkk.....palavra de Amélia a Bella.

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AMELIA BELLA
Enviado por AMELIA BELLA em 30/06/2014
Código do texto: T4864823
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