Era uma vez uma menina...

... que conhecia a linguagem da humanidade: o idioma falado pelas almas. Ela era feliz, embora a vissem como uma menina triste. Isto, quer dizer, o fato de a acharem triste, devia-se exclusivamente ao contato com os seus poemas que ela escrevia.

A menina, por sua vez, lamentava-se por achar dificuldade em expressar-se e que a sua escrita talvez não conseguisse transmitir com autenticidade o seu pensamento. E assim, com esta dupla ideia enganosa, a de ser por alguns considerada uma menina triste e a de ela própria imaginar comunicar-se com dificuldade, a menina seguia a sua vida feliz ao mesmo tempo em que alguns a imaginavam triste.

Agora, sabemos que a menina fala o idioma universal, um código que é a expressão da humanidade; que a acham triste porque a sua escrita revela as dores que habitam o coração de todos, e que o fato de ela crer haver alguma falha em sua comunicação deve-se à característica própria de quem se dirige diretamente às almas, cujo discurso é capaz de contornar os obstáculos grosseiros antes de atingir o seu sagrado alvo.