A REVOLTA DAS BANANAS

Era uma vez, um reino não muito distante, chamado Bananópolis. Ficava bem no interior do Rio de Janeiro, onde existiam muitos sítios que privilegiavam somente plantações de bananas. Não eram muitos sitiantes, mas, conseguiam com a colheita comprar seus parcos maquinários e sustentar com algum sacrifício, suas famílias.

Vou citar os nomes dos principais personagens dessa história. Valadão, Zaqueu, Onofre, Firmino e Tião, todos muito trabalhadores, casados e somente Onofre tinha um único filho, os demais possuíam, uma prole de 04 filhos cada um, eram todos muito unidos e se ajudavam na lida diária e em todos os afazeres de suas propriedades.

Num belo dia de primavera, Valadão percebeu que suas bananeiras não estavam brotando como era esperado, foi então, procurar seus outros companheiros de labuta para saber, se algo semelhante estava acontecendo em suas plantações. E não é que o mesmo estava acontecendo, só haviam pequenos brotinhos tão minguados, que nem davam pra conta. Verificaram se havia algum tipo de praga nas árvores, e nada, procuraram por algum formigueiro que não tivesse sido exterminado, e nada, que estaria acontecendo, pensaram.

Resolveram procurar um agrônomo na cidade mais próxima, fizeram uma vaquinha para pagá-lo e o moço foi até lá verificar, procurou, procurou, virou, mexeu, recolheu amostras da terra e das mudas de todos, disse que iria mandar analisar, e marcou para retornar em 10 dias com o resultado. Os dias foram passando, Valadão, Zaqueu, Onofre, Firmino e Tião, aproveitaram o tempo entre a lida, para plantar umas salsinhas, coentro e cebolinhas, que suas esposas há muito vinham pedindo. Todos os dias eles verificavam suas bananeiras e não observavam, nenhum progresso, a preocupação aumentava, mas, como boa gente do interior, nada como uma moda de viola e uma pinguinha que desce redondo para aplacar a comiseração.

Resolveram lá pelo sexto dia de espera pelo agrônomo, com o resultado da tal da análise do terreno e das mudas, juntar suas famílias e fazer uma galinhada com refrescos para as crianças e uma boa pinga com melado para eles, e assim fizeram. Havia no meio da plantação de bananas de Firmino, um pedaço de terreno ainda não plantado e resolveram levar as mantas e apetrechos e fazer um piquenique por lá, tinha espaço paras crianças correrem, uma mangueira bastante frondosa e que dava uma boa sombra. Tudo corria bem .

Onofre tocava uma bela viola, as crianças correndo livres em suas brincadeiras, as mulheres ao redor sobre as mantas, todos ouvindo as belas canções, quando Tião disse ter ouvido vozes baixinhas não sabendo bem de onde vinham, Zaqueu tinha achado que ele estava ficando doido, mas, também percebera as vozes, comentaram uns com os outros e com exceção das crianças que estavam mais distantes deles, todos haviam escutado vozes baixinhas, tal como, murmúrios, olharam em volta, não havia por lá, ninguém além deles, que coisa estranha, foi de arrepiar.

Valadão então olhou pra cima e viu pequenas boquinhas nos frutos da mangueira, se levantou, pensando que estava vendo coisas, e mais assustador do que isso, as manguinhas começaram a falar muito rápido, todos se levantaram assustadíssimos, que era aquilo meu Deus!

As boquinhas começaram a falar mais pausadamente, e uma delas tomou a palavra e disse para uma plateia  por demais “a p a v o r a d a”, as bananas estão em greve!

Valadão, Zaqueu, Onofre, Firmino, Tião e suas esposas Leninha, Rosa, Clara, Ana e Ester, estavam mudos e brancos feito leite, mas, assim que saíram do torpor, perguntaram o porquê dessa greve, e a manga líder respondeu que elas estavam se sentindo desprestigiadas por Onofre, que só plantava bananas da terra, e essas eram muito esnobes, consideravam as outras muito medíocres e de pouco valor, então as outras qualidades de bananas se revoltaram, pois queriam ver aquela região e toda aquela gente, sobreviver, só dos seus cachos minguados.

A manga líder gritara para a líder das bananeiras desprezadas, dissera que os plantadores e suas famílias não tinham culpa disso, mas, nenhum argumento que tivesse sido apontado suspendera a greve, então ela resolvera alertar aos sitiantes, assim que a oportunidade, se apresentasse, que era o que estava acontecendo.

Ainda atônitos com tanta informação e susto, perguntaram ao Onofre, se ele poderia resolver essa situação, que eles o ajudariam, se isso fosse a solução da tal greve insólita, pois se isso não fosse feito, todos iriam sair prejudicados e ele concordou. Juntaram todas as tralhas do encontro, partiram para suas casas, pegaram suas mudas e enxadas, e num mutirão de homens, mulheres e filhos maiores, partiram para a plantação de Onofre.

 
Trabalharam com afinco, regaram as mudinhas, e só lhes restava esperar, se isso iria solucionar o problema da greve das bananas. Em agradecimento adubaram o caule e as raízes da mangueira que lhes dera a notícia. Observaram que as manguinhas, estavam inesperadamente normais, mudas e frutas.

Lá pelo oitavo dia, resolveram logo que o sol nasceu, irem juntos dar uma olhadinha nas suas bananeiras, foram de sítio em sítio, e não é que as suas mudas pareciam mais desenvolvidas, ficaram muito satisfeitos com o que viram.

Chegando no sítio de Onofre, as mudas recém plantadas ainda não haviam apontado nem uma raiz sequer, mas, isso era normal pois era bem recente, já as bananas da terra de Onofre, estavam pequenas ainda, e já deveriam estar mais graúdas. Para não causar outra greve, pois a essa altura da história, já acreditavam que mangas falavam, bananas faziam greve e sabe-se lá o que mais. Adubaram as raízes das bananeiras, fizeram todos juntos uma oração emocionada, pedindo uma boa colheita, e tomaram o caminho de suas casas, com a esperança sorrindo dentro do peito.

Leninha, esposa de Valadão, no meio do caminho, resolveu preparar junto com as outras esposas, Rosa, Clara, Ana e Ester, um belo sopão de legumes, engrossado com fubá de milho e torresmo, para todo mundo. Juntaram legumes, um pouco de cada casa, se reuniram na casa de Tião que tinha a cozinha maior, tudo feito e pronto, comeram, conversaram sobre trivialidades, se despediram e foram para seus sítios para dormir, amanhã seria um novo dia.

Pela hora matutina do nono dia de espera do bendito resultado, ao darem sua ronda pelos sítios, a felicidade desabrochou em seus espíritos trabalhadores, todas as bananeiras estavam viçosas, bem mais graúdas, algumas já no ponto de colher, correram para unir um outro mutirão, colher o que fosse preciso, replantar o necessário, adubar, encaixotar e mais uma vez à tardinha, prepararam um belo jantar de canjiquinha com frango e quiabo onde se fartaram todos juntos, saboreando de sobremesa, um belo doce de banana com queijo e suco de mangas. Foi uma noite cheia de alegria, bons sonhos e cheia de esperança.

No esperado décimo dia, aparece no sítio de Zaqueu, o agrônomo com o resultado da análise das mudas e do solo, e já era esperado por eles que nada seria apontado, e foi o que se deu. Ninguém havia comentado com as crianças sobre as frutinhas falantes, e com o técnico é que ninguém abriu a boca mesmo, no mínimo, ele os acharia todos loucos de pedra, e não valia a pena causar espanto pela redondeza.

Por gentileza e cortesia, levaram o agrônomo, que se chamava Luiz para dar uma volta pelos sítios, e tudo estava muito bem, as frutas graúdas, nenhuma praga à vista, agradeceram seus serviços, e foram montar outro mutirão para a colheita, pois essa seria árdua, porém, lucrativa.

E assim termina essa história inusitada da revolta das bananas, e se quiserem saber se as frutas voltaram a falar, vão precisar aguardar mais um pouco, pois isso é outra história no interior.

Até mais, vou agora, comer com calma, um docinho de banana que ninguém é de ferro.
 
Cristina Gaspar
Rio de Janeiro, 04 de março de 2015.
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 04/03/2015
Reeditado em 05/03/2015
Código do texto: T5158497
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